Faltavam poucos minutos para as 20h desta quinta-feira (17) e o Brasil ainda tentava avaliar os desdobramentos do depoimento do hacker Walter Delgatti Netto à CPI do 8 de Janeiro quando a revista Veja soltou a bomba em forma de "push" — uma chamada que entra no celular ou no computador dos assinantes com o título de uma reportagem importante.
"Cid decide confessar e aponta Bolsonaro como mandante no caso das joias", diz o título no site da revista, com o subtítulo "O tenente-coronel vai admitir que vendeu as peças nos EUA, transferiu clandestinamente o dinheiro para o Brasil e o entregou em espécie ao ex-presidente".
Na edição impressa, a capa é sucinta: uma foto de Mauro Cid com apenas duas palavras em letras maiúsculas: "A CONFISSÃO".
O texto assinado pelas repórteres Marcela Mattos e Laryssa Borges confirma o que se especulava desde quarta-feira (16), quando o novo advogado do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Cezar Bitencourt, deu a letra do que seria a linha de defesa do tenente-coronel preso há três meses e agora encurralado pelas provas obtidas com a quebra do seu sigilo telefônico e bancário.
Não se trata de delação premiada, como Bitencourt deixou nas entrelinhas. Mauro Cid não aguentou a pressão e resolveu falar, até para não carregar culpas que não tem. Nem ele nem o pai, o general Mauro Lourena Cid, o Cidão, que o ajudou a desovar nos Estados Unidos as joias recebidas por Bolsonaro são ladrões. Seria esse o carimbo se ele não contasse a história inteira.
A chamada "tempestade perfeita" sobre a cabeça de Bolsonaro tomou forma quando o advogado Frederick Wassef, com longa folha de serviços prestados à família Bolsonaro, confirmou que, sim, foi ele quem recomprou o rolex de ouro cravejado de brilhantes para poder devolver ao Estado brasileiro. Disse que o fez de livre e espontânea vontade, mas ninguém acreditou.
Aliados de Bolsonaro ficaram furiosos com Wassef porque entenderam suas declarações como o ato de jogar a toalha — ou de empurrar o ex-presidente para o abismo. Para piorar, a Polícia Federal apreendeu os telefones de Wassef na quarta-feira em um restaurante de São Paulo. Um dos telefones seria usado apenas para se comunicar com Bolsonaro.
O deputado Eduardo Bolsonaro, que viria a Porto Alegre nesta quinta para o lançamento da Frente Conservadora na Assembleia, cancelou a viagem e mandou um vídeo explicando a ausência, sem mencionar o momento difícil vivido pela família.
ALIÁS
Além do rolex de ouro, Cid vendeu nos Estados Unidos outro relógio recebido por Bolsonaro, um Patek Philippe. Os dois juntos teriam rendido US$ 68 mil, segundo a Polícia Federal. Frederick Wassef recomprou o rolex por US$ 48 mil, pagos em espécie.