A Polícia Federal (PF) apreendeu, no final da noite de quarta-feira (16), o celular do advogado Frederick Wassef. Ele estava em um restaurante no shopping Morumbi, em São Paulo, quando foi abordado pelos policiais.
A apreensão do telefone foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na investigação sobre o desvio e venda de presentes diplomáticos no governo Jair Bolsonaro, mas não havia sido cumprida. Isso porque o criminalista não foi localizado quando a PF deflagrou a Operação Lucas 12:2, na semana passada.
A Polícia Federal afirma que o advogado recomprou um relógio da marca Rolex que havia sido vendido no Exterior por auxiliares de Bolsonaro para devolvê-lo ao Tribunal de Contas da União (TCU).
Em um primeiro momento, Wassef negou ter participado do que os investigadores chamam de "operação resgate". Em coletiva de imprensa nesta semana, contudo, ele mudou a versão e admitiu ter comprado o relógio de volta, mas negou ter agido a pedido de Bolsonaro.
— Eu comprei o relógio. A decisão foi minha. Usei meus recursos — afirmou na entrevista.
Relação de Wassef com a família Bolsonaro
Conhecido como Fred, o advogado é considerado bolsonarista "raiz". Crítico do que chama de "indústria dos radares", defensor de "ações mais efetivas da polícia" no combate à violência, católico praticante e adversário da esquerda.
O primeiro contato entre o ex-presidente e Wassef foi em 2014. Wassef ganhou de presente um smartphone quando estava internado para tratamento de câncer, clicou no ícone do YouTube e assistiu a um discurso do então deputado federal Jair Bolsonaro sobre controle de natalidade. No dia seguinte, Fred telefonou para o gabinete de Bolsonaro na Câmara. Depois de mais de uma hora de conversa, marcaram um encontro pessoal.
A atuação de Wassef ao lado do clã Bolsonaro ultrapassa a relação entre advogado e cliente. Em 2019, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) entrou na mira da PF suspeito de ter dentro do seu gabinete, quando era deputado pelo Rio, um esquema de "rachadinha". O assessor responsável por movimentações atípicas em contas vinculadas ao parlamentar, Fabrício Queiroz, ficou meses foragido da Justiça. Em junho de 2020, Queiroz foi encontrado em uma casa de Wassef, no município de Atibaia, quando foi preso pela PF. No dia seguinte, o advogado deixou o caso.
Além disso, Wassef costumava frequentar o Alvorada quando Bolsonaro era presidente. Em novembro de 2022, depois que o ex-presidente foi derrotado nas urnas, o criminalista apoiou os acampamentos feitos por apoiadores do ex-chefe do Executivo perto dos quartéis do Exército em todo o país.
"Gente, isso vai muito além do que simplesmente uma eleição ou um presidente. Isso é uma semente que nasceu, o nosso herói Jair Bolsonaro foi quem começou no Brasil o despertar de uma consciência coletiva política de amor ao Brasil, à pátria, à bandeira", disse Wassef na época.
Nas últimas eleições, o advogado se candidatou a deputado federal pelo PL em São Paulo. Ele obteve 3.628 votos e ficou como suplente. Ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Wassef declarou um patrimônio de R$ 18 milhões, composto de vários imóveis no Brasil e no Exterior.
Contraponto
A reportagem pediu manifestação ao advogado Frederick Wassef, mas ele ainda não retornou as mensagens.