Surpreendente não foi a cassação do deputado Deltan Dallagnol pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas o placar de 7 a 0. Surpreendente porque até o ministro Nunes Marques, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, votou pela cassação. Logo, não se pode atribuir o resultado a uma conspiração de políticos de esquerda contra o paladino da Justiça, o homem que combateu a corrupção e, por isso, foi punido.
Como o Direito não é uma ciência exata, para cada jurista convicto de que a cassação de Deltan era inevitável, porque ele tentou burlar a Lei da Ficha Limpa se exonerando do Ministério Público Federal, há outro sustentando que o julgamento foi político. Aos leigos resta ouvir os dois lados, mesmo sabendo que há nuances que escapam aos reles mortais.
É fato que Deltan se exonerou em 2021 e, como fez Sergio Moro, trocou de lado no balcão. Se seria ou não condenado em um processo administrativo, nunca se saberá, porque saiu antes. A cassação parte da premissa de que seria condenado e assim ficaria inelegível.
Moro e Deltan, que chegaram a ser chamados de Dom Quixote e Sancho Pança, começaram a se decompor com a chamada Vaza-Jato, quando ficou comprovado que havia combinações inaceitáveis entre juiz e promotor. O resto é sabido: Moro trocou a toga pelo cargo de ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, na esperança de virar ministro do Supremo. Deixou o ministério vociferando contra Bolsonaro, mas acabou ao lado do ex-presidente na eleição de 2022, chegando ao ponto de ser o orientador em um debate decisivo com o candidato Luiz Inácio Lula da Silva.
Eleito senador, Moro corre o risco de perder o mandato em uma ação movida pelo partido de Bolsonaro. Deltan ainda pode recorrer ao Supremo, mas a parada será duríssima.
ALIÁS
Na guerra de narrativas que marca os embates entre esquerda e direita, a cassação de Deltan Dallagnol dá argumentos aos que acusam a Justiça Eleitoral de ativismo. Deltan colecionou inimigos entre os políticos, mas seu destino foi selado por sete ministros do Tribunal Superior Eleitoral.