Marcado para a manhã desta quinta-feira (30), o retorno do ex-presidente Jair Bolsonaro ao Brasil, depois de três meses de autoexílio nos Estados Unidos, será mais um teste à convivência entre contrários. A tendência é de acirramento dos ânimos, seja pela persistência do clima eleitoral, seja porque o ex-presidente será chamado a depor logo nos primeiros dias em solo brasileiro sobre as joias recebidas do governo da Arábia Saudita, avaliadas em mais de R$ 18 milhões. A Polícia Federal convocou Bolsonaro para ser ouvido no dia 5 de abril.
Cedo ou tarde, o ex-presidente também deverá ser chamado a dar explicações sobre os atos de 8 de janeiro, quando vândalos depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. Embora estivesse nos Estados Unidos desde o final de dezembro, ele estimulou as concentrações nos quartéis e passou as semanas anteriores emitindo sinais de que alguma coisa ocorreria para evitar a posse do presidente eleito.
Na casa de seu ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que tomou posse como secretário de Segurança do Distrito Federal e em seguida viajou para a Flórida, foi encontrada uma minuta de decreto golpista sobre a qual o ministro Alexandre de Moraes e a Polícia Federal ainda buscam explicações a respeito dos possíveis protagonistas.
O ex-presidente planejava um desembarque apoteótico, reprisando as recepções em aeroportos que alavancaram sua candidatura em 2017 e 2018, mas a Polícia Federal e o governo do Distrito Federal frustraram os planos. Para evitar tumulto no saguão do Aeroporto de Brasília, onde os líderes do PL planejavam reunir simpatizantes para recepcionar Bolsonaro, as forças de segurança orientaram que ele use uma saída secundária. Em outras palavras, o comício foi abortado em nome da segurança dos passageiros e do risco de atraso nos voos.
O momento do desembarque é apenas um detalhe. Em Brasília, a preocupação é com o a possibilidade de a presença de Bolsonaro estimular seus seguidores a promoverem novos atos semelhantes aos de 8 de janeiro. O clima de confronto no Congresso, mesmo com Bolsonaro nos Estados Unidos, dá ideia de que a relação governo e oposição será tensa o tempo todo. Longe de tentar apaziguar os ânimos, os três filhos do presidente usam as redes sociais para fustigar o governo Lula, misturando fatos e boatos. E a guerrilha digital petista contra-ataca usando as mesmas armas, o que em nada contribui para um possível acordo de paz.
De sua parte, o presidente Lula terá de ser contido pelos ministros mais próximos, para não entrar em bate-boca com Bolsonaro. Depois do episódio em que atacou o senador Sergio Moro, dando holofotes ao ex-juiz e ex-ministro da Justiça, Lula terá de medir as palavras, mesmo que seja provocado. Afinal, é o presidente da República e em nada contribui para a solução dos problemas do país entrar em bola dividida com o adversário que derrotou por poucos pontos na eleição de 2022.
Aliás
A grande incógnita é qual será a postura de Jair Bolsonaro no retorno. Ficará em casa ou trabalhará discretamente na sede do PL? Ou sairá pelo país em eventos públicos instigando os seguidores?