O jornalista Carlos Rollsing colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço
Ainda sob o impacto do resgate de quase três centenas de trabalhadores em condições análogas à escravidão, em Bento Gonçalves e Uruguaiana, o Rio Grande do Sul receberá, entre segunda (20) e terça-feira (21), o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, para uma série de reuniões com lideranças políticas, empresariais e sindicais.
A agenda começa nesta segunda pela manhã, em Bento Gonçalves, com visitas à prefeitura, reunião com vitivinicultores, sindicatos patronais e à hospedaria de onde foram resgatados mais de 200 trabalhadores em condição análoga à escravidão. A eleição acabou, mas é detalhe a ser observado o ambiente das reuniões entre o ministro Marinho, um quadro importante do PT, e empresários da Serra gaúcha, um reduto bolsonarista. Divergências à parte, acredita-se que haverá convergência quanto à avaliação de que não é admissível ter, no século 21, trabalhadores submetidos a violências, ameaças, ausência de banheiro, comida azeda e restrição de água.
– Além da cena desumana, temos a certeza de que para o país são muito ruins essas manchetes. Precisamos de um compromisso dos setores no combate a essas práticas de trabalho precário e análogo à escravidão – diz a deputada estadual Laura Sito (PT), presidente da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia. Ainda nesta segunda, Marinho terá compromissos em Caxias do Sul e em Porto Alegre. Na Serra, almoça no Sindicato dos Metalúrgicos e visita autoridades locais. Depois, vem a Porto Alegre para se reunir com centrais sindicais, conversar com o presidente da Assembleia, Vilmar Zanchin (MDB), e participar de uma audiência pública e de ato contra o trabalho análogo à escravidão.
Na terça, Marinho se reunirá com o governador Eduardo Leite e com a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs). É um roteiro equilibrado, em que o governo federal contempla diferentes forças políticas e as entidades representativas dos empresários e dos trabalhadores. O que se espera de um governo nacional é a capacidade de identificar os problemas e sentar à mesa com os divergentes para buscar soluções.
– Reitero que foi fato isolado e não podemos generalizar, mas temos de modernizar as relações de trabalho. Precisamos de fiscalização maior e de um pacto da sociedade. Não pode mais acontecer. E não será algo de um dia para o outro. Requer conscientização e participação dos governos estadual e federal – diz Diogo Siqueira (PSDB), prefeito de Bento Gonçalves.