O jornalista Paulo Egídio colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço
Enquanto os partidos de esquerda ainda discutem unir forças na próxima eleição para a prefeitura de Porto Alegre, o prefeito Sebastião Melo (MDB) trabalha em silêncio na consolidação de sua robusta aliança com partidos de centro e direita. Melo evita falar em reeleição e insiste que é cedo demais para tratar do assunto, mas movimentos recentes sinalizam a construção de uma coligação ampla para 2024.
A coalizão que dá sustentação a Melo começou a ser desenhada ainda no segundo turno da eleição passada, na disputa contra Manuela D'Ávila (PCdoB), e se refletiu na formação do governo e na construção de uma vultosa base na Câmara de Vereadores. Hoje, dos 16 partidos representados na Câmara, 11 estão oficialmente na base de Melo, afora os independentes Novo e o PDT, que costumam acompanhar o governo em boa parte das votações.
Até agora, o prefeito não enfrentou nenhuma tempestade na relação com os vereadores e mantém consigo partidos que lançaram candidatos próprios no primeiro turno de 2020, como PP, PSD e Republicanos.
O movimento mais recente para o fortalecimento da aliança foi a adesão do PSDB à base governista, o que deve facilitar ainda mais a vida de Melo na Câmara. Ao ingressarem no governo, os tucanos apressaram-se em anunciar que o acordo não significa qualquer compromisso para 2024 e, oficialmente, dizem que o partido avalia ter candidato próprio. No entanto, há um conjunto de fatores que dificultam a empreitada.
O primeiro deles é o PSDB integrar federação com o Cidadania, legenda que está com Melo desde a campanha passada e ocupa espaços importantes na prefeitura. Além disso, não há um nome natural para a disputa — o ex-prefeito Nelson Marchezan não tem participado da discussão sobre os rumos do partido . Por último, como encolheu ainda mais na eleição de 2022, o PSDB precisaria de coligação para ter mais espaço no horário eleitoral, missão complexa justamente porque outros partidos de centro estão na órbita de Melo.
Recentemente, o prefeito também teve a confirmação de que o PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, estará com ele em 2024. Mais do que sinalizar a repetição da chapa com o vice-prefeito Ricardo Gomes, o movimento estanca a possibilidade de surgimento de uma candidatura competitiva à direita.
Em um cálculo preliminar que leva em consideração os deputados federais eleitos em 2022, a aliança atual de Melo (com ou sem o PSDB) já garantiria a ele mais da metade do tempo do horário eleitoral em 2024.