As duas melhores notícias da posse do presidente Lula para o terceiro mandato foram o clima pacífico em que os atos ocorreram e a entrega da faixa presidencial por pessoas que representam a sociedade brasileira. Já que o ex-presidente Jair Bolsonaro preferiu viajar para a Flórida para não entregar a faixa e o vice Hamilton Mourão não quis substituí-lo na transmissão de cargo, coube a uma mulher negra, catadora de resíduos, colocar o acessório no peito do presidente. Aline representava outras pessoas do povo que subiram a rampa com Lula, a primeira-dama Janja, o vice-presidente Geraldo Alckmin e sua esposa Lu.
Temia-se incidentes, já que bolsonaristas radicais passaram os últimos dias dizendo que Lula não subiria a rampa, mas nada de grave foi registrado, apesar da presença de milhares de pessoas na festa na Esplanada dos Ministérios e na Praça dos Três Poderes. O presidente e o vice, acompanhados das respectivas esposas, desfilaram em carro aberto porque a ação prévia da Polícia Federal e da polícia do Distrito Federal garantiu a segurança.
O discurso do general Mourão na noite de sábado desmobilizou o que restava da resistência bolsonarista em frente aos quartéis. A revista rigorosa desestimulou quem porventura estivesse pensando sem semear o terror, como na noite em que foram queimados ônibus e carros em Brasília.
Nos dois discursos que fez — primeiro no Congresso, depois no parlatório, para a multidão — Lula reafirmou compromissos de campanha e deixou claro que, se tiver de fazer escolhas, ficará com os menos favorecidos. O combate às desigualdades esteve no centro dos dois pronunciamentos e ele chegou a chorar quando falou da miséria. Ilustrou o problema da desigualdade com uma imagem forte: disse que no Brasil existe fila do osso no açougue e fila para comprar jatinhos e carros importados.
Tanto no Congresso quanto no parlatório, o presidente falou das medidas que assinaria mais tarde, materializando o cumprimento das primeiras promessas, a começar pelo Bolsa Família de R$ 600. O aumento real do salário e o estímulo à produção, no Brasil, de produtos hoje importados, como fertilizantes, microprocessadores e plataformas de petróleo conversam com outra promessa do presidente, de geração de empregos a partir de investimentos públicos.
Aliás
Fernando Haddad havia pedido ao antecessor, Paulo Guedes, para não prorrogar a isenção de impostos sobre combustíveis, mas Lula prorrogou o benefício por 60 dias. Além de não começar o governo provocando elevação dos preços dos combustíveis. Fica com um crédito que seria do antecessor.
Mulheres protagonistas
A primeira-dama Janja Silva e a esposa do vice-presidente Geraldo Alckmin, Lu Alckmin, brilharam do primeiro ao último ato da posse. Para valorizar o vice, Lula convidou o casal a desfilar junto no carro aberto que o levou da Catedral ao Congresso e, depois, do Congresso ao Palácio do Planalto.
Quando os quatro se encontraram com os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara, Arthur Lira, e trocaram cumprimentos, as duas seguiram à frente dos maridos rumo ao plenário da Câmara.
Organizadora da festa de posse, Janja deu sinais de que não será coadjuvante no governo. Lu sempre esteve à frente de ações sociais no governo de São Paulo quando Alckmin foi governador