O jornalista Carlos Rollsing colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço
A partida do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para o Exterior antes do fim do mandato, os períodos longos de silêncio e, mais recentemente, a inclusão dele entre os investigados por suposta autoria intelectual e incitação dos atos golpistas de 8 de janeiro abriram uma janela de disputa pela liderança da direita no Brasil. Bolsonaro não deixou claro o seu futuro, é desconhecido o dia de seu retorno ao país e, com o cerco se fechando em diferentes frentes, ele poderá tornar-se inelegível em caso de condenação.
Não costuma existir vácuo na política. Alguém ocupa o espaço. Embora Bolsonaro seja, inquestionavelmente, o único desse campo que reúne as características de líder de massa carismático, passaram a despontar os nomes dos governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo).
Tarcísio assumiu a maior economia e colégio eleitoral do país, e uma boa gestão irá lhe alçar automaticamente à posição de presidenciável e ícone da direita. Zema foi reeleito em primeiro turno, faz do discurso liberal sua ponta de lança, tem portfólio na área econômica e cresceu como voz antagônica ao PT. Os correligionários afirmam que Zema concorrerá à Presidência em 2026. Contra ele, pesa a pequena capilaridade do Novo, que nem sequer atingiu a cláusula de barreira em 2022. Outro óbice é o carisma. Bolsonarista histriônico, o deputado federal Bibo Nunes (PL) considera Zema bom nome, mas diz que ele é quase uma sopa de hospital.
O senador eleito Hamilton Mourão (Republicanos) tem dito que Bolsonaro continuará sendo o grande líder de direita, mas alguns dos seus atos sugerem que também está se posicionando para disputar as rédeas. O principal deles foi o pronunciamento do dia 31 de dezembro, como presidente em exercício, quando desferiu críticas indiretas ao comportamento do titular após a derrota nas eleições. A direita está fortalecida no Senado e indica, até o momento, que insistirá na pauta do impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal. A pesquisadora da extrema direita Michele Prado diz que, caso algum senador consiga emplacar a deposição de magistrados, será imediatamente alçado à condição de ídolo da direita radical brasileira.
Bolsonaro segue como nome de maior envergadura por ter saído da eleição com um capital de 49% do eleitorado. A senadora eleita Damares Alves (Republicanos) diz que os evangélicos seguirão em maioria com ele. Erros, contudo, poderão destroná-lo.
ALIÁS
O senador eleito Sergio Moro (União Brasil) busca ser o principal antagonista de Lula, o que poderia fazê-lo icônico na direita, mas a aposta de analistas políticos é de que o ex-juiz será esvaziado por parlamentares experientes. Há quem opine que o governador Eduardo Leite (PSDB) poderá herdar votos da direita liberal, do mercado, que aderiu a Bolsonaro até então.