O jornalista Paulo Egídio colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço
Partido que abrigou os políticos que faziam oposição ao regime militar, o MDB do Rio Grande do Sul silenciou a respeito da nota assinada por Luis Roberto Ponte que prega intervenção das Forças Armadas e destituição de membros do Poder Judiciário.
Ponte assinou a manifestação enquanto presidente do conselho deliberativo da Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul (Sergs), mas também é membro titular da comissão executiva estadual do MDB. O órgão é o mais importante na estrutura do partido no Estado.
"Não cabe a nós, do MDB, tecer comentários sobre o teor da nota emitida pela Sociedade de Engenharia", escreveu o presidente do partido, Fábio Branco, que é prefeito de Rio Grande, em resposta à coluna.
Ponte foi deputado constituinte pelo MDB, chefe da Casa Civil no governo de José Sarney e secretário estadual de Desenvolvimento Social no governo de Germano Rigotto.
Na manifestação, datada da quarta-feira (30), a Sociedade de Engenharia prega que as Forças Armadas e o Executivo destituam membros do Poder Judiciário, no intuito de anular o resultado da eleição presidencial. Trata-se da mais grave nota emitida por uma entidade gaúcha desde a apuração. O comunicado em tom golpista é assinado por ponte e pelo presidente da entidade, Walter Lídio Nunes.
Partidários se manifestam
Apesar do silêncio oficial do MDB, integrantes do partido se manifestaram durante o dia. O vice-governador eleito Gabriel Souza publicou mensagem no Twitter exaltando a história do partido na luta contra a ditadura:
"Me filiei à @jmdbrs aos 15 e ao @mdbrs15 aos 16 anos de idade exatamente pelo partido ter lutado contra a ditadura militar e reconquistado a democracia no Brasil. Lembremos de Ulysses Guimarães: 'Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo!' Agora no século XXI, esse ainda é o MDB", escreveu.
O secretário do Desenvolvimento Econômico, Joel Maraschin, foi mais direto:
"É pura insanidade uma nota que acabei de ler, que flerta com o golpismo, disfarçado de ‘apelo democrático’, clamando por intervenção militar. Milito no MDB que combateu a ditadura, que lutou pela democracia, e que sinto vergonha em ver um membro histórico assinar sua autoria", postou Maraschin.