O jornalista Paulo Egídio colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço
Em manifestação datada da quarta-feira (30), a Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul (Sergs) prega que as Forças Armadas e o Executivo destituam membros do Poder Judiciário, no intuito de anular o resultado da eleição presidencial. Trata-se da mais grave nota emitida por uma entidade gaúcha desde a apuração. O comunicado em tom golpista é assinado pelo presidente da entidade, Walter Lídio Nunes, e pelo presidente do conselho deliberativo, Luis Roberto Ponte.
De acordo com a nota, o Brasil estaria sob um golpe "perpetrado por membros do Poder Judiciário convertido em poder supremo de uma ditadura travestida de democracia e mantida pela omissão do atual Poder Legislativo, abolindo o Estado de Direito e a nossa liberdade".
"Cumprindo seu dever, a Sergs vem solicitar a reconstituição da democracia e da liberdade, com a destituição constitucional dos golpistas (sic) mediante iniciativa do Poder Executivo e suas Forças Armadas, o único poder que atualmente remanesce com capacidade de desbaratar o golpe perpetrado, e a quem a Constituição delegou o dever de garantir a lei e a ordem", diz trecho do texto.
De fato, a Constituição atribui às Forças Armadas a missão de garantir a e lei e a ordem, mas em momento algum autoriza que o Exército, a Marinha ou a Aeronáutica destituam membros do Judiciário ou de outro poder constituído.
A nota ainda afirma que o processo eleitoral que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência da República foi "eivado de ilegalidades", mas não apresenta provas. Na sequência, o texto defende a suspensão da posse de Lula. O texto chama o presidente eleito de "líder corrupto" que tem o "objetivo explícito de conduzir o país para uma ditadura comunista".
Apesar da contestação dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, o processo eleitoral foi acompanhado e fiscalizado por diversas instituições da sociedade civil, como a Ordem dos Advogados do Brasil, o Ministério Público e o Tribunal de Contas da União. Nenhuma delas apresentou qualquer indício mínimo de ilegalidade no pleito.
Além do tom da nota, chama a atenção a assinatura de Luis Roberto Ponte, que foi deputado constituinte, chefe da Casa Civil no governo de José Sarney e secretário estadual de Desenvolvimento Social no governo de Germano Rigotto. Atualmente, Ponte integra a executiva estadual do MDB do Rio Grande do Sul.
Leia a íntegra da nota da Sergs: