Quem assistiu ao último debate do segundo turno, na TV Globo, sem o compromisso de torcer para um candidato ou outro saiu com a sensação de ter perdido duas horas da sua sexta-feira (28) para ir do nada a lugar algum. O debate entre o ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) foi chato, raso e preso ao passado. Mesmo quando se anunciava a promessa de discutir o futuro, na prática os dois voltavam aos ataques.
Nas redes sociais, torcedores de Lula e Bolsonaro avaliaram que seu candidato arrasou, mas foi como aqueles jogos que terminam em zero a zero e o espectador tem vontade de sair do campo antes que termine, porque sabe que já deu o que tinha de dar. É fato que quem desligou a TV mais cedo perdeu a chance de ouvir Bolsonaro cometer um ato falho e pedir mais um mandato de deputado federal nas considerações finais.
Lula aprendeu a lidar com o relógio e só em um bloco deixou o adversário falando sozinho por cerca de 2 minutos. Na Band, tinham sido quase seis minutos. No conteúdo, nada surpreendente para quem acompanhou a propaganda eleitoral, majoritariamente baseada na desqualificação do oponente.
Os dois foram previsíveis e superficiais. Pareciam estar jogando pelo empate, o que de certa forma funcionou. Lula puxou o tema do aborto, não para discuti-lo com a seriedade que o assunto merece, mas para mostrar que há 30 anos Bolsonaro sugeriu dar um medicamento abortivo, o Citotec, para que mulheres pobres não procriassem. Bolsonaro se embaralhou, disse que era um discurso de 30 anos atrás e que ele “poderia ter mudado”. Confundiu um medicamento abortivo com pílula do dia seguinte e disse quem defende o aborto é Lula e as mulheres que o assessoram na Secretaria de Direitos Humanos. Dizer que a conversa foi indigente é elogio.
O tema ambiental, que mereceria uma reflexão profunda, ficou na disputa sobre em que governo se desmatou mais, com Lula contestando os números de Bolsonaro. O ex-presidente avançou para o que pretende fazer se for eleito e invocou a presença de Marina Silva na sua equipe de campanha.
De política econômica não se falou. De geração de emprego, quase nada e de forma superficial. De educação, zero. De cultura, nem uma palavra. De infraestrutura, só pelas beiradas.
Como praticamente não há mais eleitores indecisos, Lula e Bolsonaro trataram de manter os votos já convertidos. Falaram para suas bolhas e isso explica por que tantos nas redes sociais acharam que seu candidato ganhou de goleada.