O último debate do segundo turno da eleição presidencial mais acirrada da história recente do Brasil colocou frente a frente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) nos estúdios da Rede Globo, na noite desta sexta-feira (28), no Rio de Janeiro. A disputa foi marcada por ataques, acusações e cobrança por medidas prometidas que não foram tomadas. Propostas e projetos ficaram em segundo plano.
No primeiro bloco, sem tema definido, cada concorrente teve 15 minutos para administrar livremente. Olhando diversas vezes para anotações na palma da mão, Bolsonaro partiu para o ataque e acusou o adversário de mentir em sua propaganda eleitoral.
— Disse que eu ia cassar férias e 13º salário e horas extras. Mentiroso! — atacou o candidato do PL.
— O povo brasileiro sabe quem é mentiroso. Bolsonaro mentiu 6 mil vezes durante seu mandato, segundo a imprensa — rebateu Lula, questionando por que Bolsonaro não aumentou o salário mínimo nem a merenda escolar.
Bolsonaro, então, usou a pandemia de coronavírus e os efeitos da crise sanitária na economia mundial entre as justificativas para não efetivar esses reajustes. Mas afirmou que vai aumentar o benefício no próximo ano. O candidato à reeleição também criticou o valor do Bolsa Família, afirmando que “triplicou” a quantia com o Auxílio Brasil. Lula respondeu não ser correto comparar os dois programas porque o Bolsa Família era “uma ação dentro de um conjunto de programas sociais” em seu governo.
Em seguida, Lula provocou Bolsonaro sobre a política externa do adversário:
— Ele não tem relação com nenhum país do mundo. Então, em vez de explicar o que ele quer fazer, ele fica como se fosse o cara de um samba de uma nota só.
Bolsonaro criticou a relação de Lula com países vizinhos, afirmando que o governo petista tirava dinheiro do país para ajudar outras nações da América Latina:
— Tua política externa é com o ditador Maduro, com Cuba, com a Argentina.
Além disso, Bolsonaro criticou o programa Mais Médicos, dizendo que médicos cubanos “não entendiam nada” e que foram contratados no governo do PT para mandar dinheiro para Cuba.
Em novo embate, os candidatos voltaram a se atacar, entrando na seara do tema corrupção: — A quantidade de imóveis que eles compraram (família Bolsonaro), a quantidade de rachadinhas. Sou o único que tem atestado de idoneidade aqui — destacou Lula.
— Você foi descondenado por um amigo do Supremo Tribunal Federal. Você é um bandido. Cadê seus ministros? Palocci, Zé Dirceu, Genoino. Cadê essa turma toda? — rebateu Bolsonaro.
Em seguida, Lula citou mudanças trazidas pela reforma da Previdência, que, segundo ele, teriam prejudicado mulheres e demais classes sociais. O petista também afirmou que foi “Guedes” quem disse que acabaria com férias e 13º salário.
Bolsonaro respondeu que o adversário tenta assustar a população, destacando que o governo petista foi marcado pela corrupção. Na sua vez de escolher, Bolsonaro optou pelo tema respeito à Constituição. Ele usou o assunto para acusar o petista de apoiar a invasão de terras:
— Você defende invasão de terras. Defende invasão de propriedades aqui na cidade. Isso é respeitar a Constituição, Lula?
O petista, então, relembrou ataques de Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal:
— Ele vive ameaçando ministros da Suprema Corte. Ele vive ameaçando fechar (a Corte), que não vai respeitar decisão (judicial). Vive xingando pessoalmente os ministros do Supremo.
No bloco seguinte, na volta ao tema livre, Lula escolheu debater sobre a pandemia e saúde:
— Por que passar 45 dias negando a vacina, por que negar a doença, por que esconder seu cartão de vacina, por que acabar com 33% de recursos da Farmácia Popular?
Bolsonaro rebateu:
— Compramos mais de 500 milhões de doses de vacina. No dia em que a Anvisa autorizou, começou a se aplicar a vacina no Brasil. O Brasil foi referência para o mundo no tocante à vacina. Se você tomou, Lula, agradeça a mim. Tá ok?
Em seguida, Lula afirmou que a atuação de Bolsonaro no combate à pandemia foi problemática, citando troca de ministros especialistas por “general sem experiência”, e citou que Bolsonaro debochou de doentes.
Blocos finais
No quarto bloco, Bolsonaro escolheu o tema emprego, afirmando que sua gestão criou postos mesmo com a pandemia. No fim da explanação, questionou o que o adversário achava desse fato. Lula criticou a metodologia de apuração de alguns dados citados e provocou:
— Quero saber de emprego geral, com carteira assinada.
Nas considerações finais, Lula afirmou que, caso eleito, vai restabelecer a harmonia no Brasil.
— Peço para você votar no 13. Para a gente voltar a consertar esse país, fazer o país crescer, gerar emprego, distribuir renda e o povo voltar a comer bem — disse Lula.
Bolsonaro usou o tempo para reforçar algumas de suas bandeiras, com tom conservador e criticando temas como o aborto e a liberação das drogas:
— Mais do que escolher presidente da República, é hora de escolher o futuro da nossa nação. Se viveremos em liberdade ou não. Se será respeitada a família brasileira.
A votação do segundo turno é neste domingo (30), das 8h às 17h.