A violência e o espírito antidemocrático dos caminhoneiros que começaram a bloquear rodovias desde o anúncio do resultado da eleição presidencial assustam tanto quanto a inércia da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e dos órgãos que deveriam coibir esse tipo de ato criminoso. Ninguém é obrigado a concordar com a eleição deste ou daquele candidato, mas a regra do jogo democrático é clara: vence quem fizer o maior número de votos.
Na eleição de domingo (30), o ex-presidente Lula (PT) fez 60.345.999 votos contra 58.206.354 do presidente Jair Bolsonaro (PL). Mesmo que a diferença fosse de dois votos, e não de 2 milhões, seria o eleito, goste-se ou não dele. Parte dos derrotados não gostou e, em um movimento claramente orquestrado, caminhoneiros começaram a trancar estradas, como se fossem donos dos caminhos do Brasil.
O silêncio de Bolsonaro, que 24 horas depois da derrota ainda não tinha se manifestado, alimentou os protestos dos rebeldes sem causa aceitável. Não é razoável que numa democracia os perdedores tranquem rodovias, queimem pneus e transtornem a vida de quem viaja de carro, ônibus ou mesmo caminhão porque não gostou do resultado. O nome disso é arruaça, mas também se pode chamar de baderna.
Qual a condição dos caminhoneiros para liberar os bloqueios? Em alguns pontos, pediam intervenção militar. Em outros, que Bolsonaro se pronunciasse ou que a eleição fosse anulada. Com base em que lei? Nenhuma, exceto a lei do mais forte do ponto de vista físico ou material.
O silêncio de Bolsonaro é cúmplice da desordem. A inação da Polícia Rodoviária Federal também. Vídeos que circularam ao longo da segunda-feira (31) mostram os agentes da PRF em clima de camaradagem com os caminhoneiros, garantindo que a ordem é ficar ao lado deles. Ordem de quem? Do mesmo chefe que determinou blitze em ônibus no domingo, na clara tentativa de impedir eleitores do Nordeste de chegarem a tempo de votar?
O Ministério Público Federal deu prazo para a PRF se manifestar. Bolsonaro, com seu silêncio, passa a ideia de que está gostando das filas nas estradas, como em 2018, quando os caminhoneiros pararam o país, o presidente Michel Temer esteve a ponto de renunciar e ele ganhou popularidade. Desta vez, Bolsonaro é o presidente e não um simples deputado agitador. Precisa ter responsabilidade e pedir aos caminhoneiros que parem, até porque é o abastecimento do país que está em jogo.
ALIÁS
Não importa a cor da camiseta de quem tranca rodovias: sejam caminhoneiros alinhados com o governo federal, vestidos de verde e amarelo, sejam militantes do MST fardados de vermelho, impedir o direito de ir e vir é crime e deveria ser coibido pela polícia rodoviária.