Criticado por não abrir o voto para presidente da República, decisão tomada depois de vários dias de reflexão ao final do primeiro turno, Eduardo Leite (PSDB) acertou no pragmatismo. Além de não perder os votos que recebeu em 2 de outubro de eleitores do presidente Jair Bolsonaro (PL), conquistou praticamente todos os dados a Edegar Pretto (PT).
Voto não tem carimbo, mas, pelos números, é legítimo deduzir que Onyx Lorenzoni (PL) não conseguiu penetrar na muralha da centro-esquerda. O candidato do PL fez 2.767.786 votos no segundo turno, o que significa 385.760 a mais do que no primeiro turno. A soma dos votos de Luis Carlos Heinze (PP) e Roberto Argenta (PSC), que o apoiaram, dá 398.439. Ou seja: Leite herdou uma parte dos votos desses dois candidatos, além dos de Ricardo Jobim (Novo), Vieira da Cunha (PDT) e Vicente Bogo (PSB).
No primeiro turno, Leite fez 1.702.815. No segundo, mais que dobrou essa votação: 3.687.126. Significa que ganhou 1.984.311 votos — daí a conclusão de que os eleitores de Pretto migraram em massa para sua candidatura e a dissidência no PP funcionou.
Nas regiões dos prefeitos progressistas que o apoiaram, Leite mais que dobrou a votação em Santa Cruz do Sul (fez 54,98% dos votos contra 45,02% de Onyx) e Uruguaiana (52,09% a 47,91%) na comparação com o primeiro turno. Também venceu em Lajeado (50,11% a 49,89%).
Em Uruguaiana e nos demais municípios da base eleitoral do deputado Frederico Antunes, o ex-governador derrotou o ex-ministro. O mesmo ocorreu na região dominada pela família Covatti.
A abstenção foi praticamente a mesma nos dois turnos: 19,79% no primeiro e 19,32% no segundo. Significa que 1,69 milhão de eleitores deixaram de votar no primeiro turno e 1,65 faltaram no segundo.
O número de votos brancos e nulos para governador também foram semelhantes. No primeiro turno, foram 190.663 nulos (2,77%) e 341.049 brancos (4,95%). No segundo turno, foram 267.276 nulos (3,86%) e 202.415 brancos (2,92%).
Mais fácil
Embora tenha corrido sério risco de ficar fora do segundo turno, a reeleição de Eduardo Leite foi mais fácil do que o segundo turno de 2018.
Contra José Ivo Sartori (MDB), Leite fez 3.128.317 votos (53,62% dos válidos). Contra Onyx Lorenzoni foram 3.687.126 ou 57,12% dos votos válidos.
ALIÁS
No debate da RBS TV, Onyx Lorenzoni cometeu mais um dos muitos erros de sua campanha: disse que não queria nenhum voto do PT. Imaginou que colando sua imagem na do presidente da República o voto seria automático, mas Bolsonaro fez 56,35% dos votos e ele, 42,88%.
Demonstração de civilidade
Assim que a apuração apontou a derrota inevitável, o candidato do PL, Onyx Lorenzoni, teve um gesto de grandeza: ligou para o adversário, cumprimentou-o pela vitória e desejou-lhe sucesso.
Essa é uma tradição democrática. Quem está na política sabe que ganhar e perder fazem parte do jogo e que respeitar o resultado é o mínimo que se espera de quem fez menos votos.