Passadas 24 horas da posse do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, os ecos do discurso ainda reverberam Brasil afora. Foi uma posse atípica. Normalmente, a troca de comando na Justiça Eleitoral é um ato formal, ao qual comparecem as principais autoridades do Judiciário e do Ministério Público, um que outro governador, deputados, senadores e amigos do empossado. Desta vez foi diferente. Não por obra do acaso, mas por uma decisão política de Moraes de marcar posição diante das ameaças explícitas ou veladas de golpe.
Antes de entrar no conteúdo do discurso, é preciso recordar a composição da plateia: ao lado de Moraes estava o presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, convidado pessoalmente pelo ministro mais criticado pelos bolsonaristas. Na primeira fileira, os ex-presidentes da República (Dilma Rousseff separada de Michel Temer pelo decano José Sarney). Luiz Inácio Lula da Silva na dupla condição de ex-presidente e de candidato, dividindo espaço com outros concorrentes. E mais: 22 governadores, ministros, presidentes de tribunais regionais eleitorais, deputados, senadores, membros do Ministério Público. Os que não couberam na plateia principal lotaram outros dois auditórios do TSE.
O discurso contundente de Moraes foi interrompido por aplausos mais de uma vez, quando defendeu o sistema eleitoral e a democracia e falou dos limites da liberdade de expressão. Em vários deles, o ministro provocou desconforto no presidente, nos ministros e na primeira-dama Michele Bolsonaro, como mostram os vídeos que circularam ao longo da quarta-feira (17).
— Liberdade de expressão não é liberdade de agressão, de destruição da democracia, das instituições, da dignidade e da honra alheias. Liberdade de expressão não é liberdade de propagação de discursos de ódio e preconceituosos — disse Moraes num dos momentos mais tensos.
Por que os presentes aplaudiram de pé? Porque acreditam, de fato, que a democracia está ameaçada quando o presidente questiona as urnas eletrônicas e ameaça não respeitar o resultado da eleição, caso seja derrotado. É fato que Bolsonaro nunca disse “vou dar um golpe”, mas a forma como convocou a população para os atos de 7 de Setembro acendeu o sinal de alerta.