O primeiro dia oficial de campanha eleitoral foi marcado pela disputa entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em torno de temas religiosos, indicando o que pode ser uma das tônicas da corrida por votos até o dia 2 de outubro.
Em Juiz de Fora (MG) — onde foi alvo de uma facada na campanha de 2018 —, Bolsonaro voltou a chamar a eleição deste ano de "luta do bem contra o mal" e também criticou o "fechamento de igrejas" na pandemia de covid-19, reforçando a pauta religiosa da sua campanha.
Já Lula fez o primeiro ato de campanha em São Bernardo do Campo (SP), seu berço político, onde acusou Bolsonaro de tentar manipular a boa-fé de evangélicos. Segundo o petista, o presidente é "possuído pelo demônio".
O Estado brasileiro é laico. A Lei das Eleições (9.504/97) proíbe a propaganda eleitoral em templos religiosos.
Bolsonaro fez um discurso no local onde sofreu o atentado há quatro anos, na rua Halfeld, região central de Juiz de Fora. Ele estava com a primeira-dama Michelle e com o ex-ministro Walter Braga Netto (PL), candidato a vice na chapa.
— Nós sabemos da luta do bem contra o mal. Nós aqui sempre pregamos e defendemos a liberdade absoluta. Se uma pessoa se sentir ofendida, que vá à Justiça, mas não podemos criar leis, como a de fake news —, afirmou o presidente, em uma referência a um projeto no Congresso que prevê punições para a divulgação de informações falsas.
Ditadura
O presidente também disse que igrejas foram fechadas na pandemia. Aliados do chefe do Executivo têm espalhado desinformação nas redes sociais, dizendo que, se eleito, Lula fechará templos.
— Vocês sentiram um pouquinho de ditadura aqui durante a pandemia. Igrejas, por exemplo, sendo fechadas, pessoas sendo proibidas de trabalhar, alguns mandando prender até quem estava na praia — declarou Bolsonaro.
Ao lado do marido, Michelle Bolsonaro discursou em tom eleitoral e fez uma oração.
— Essa campanha, mais uma vez, é um milagre de Deus. Começou em 2019 (2018, ano da facada), quando Deus fez o milagre na vida do meu marido, porque aqueles que pregam o amor e a pacificação atentaram contra a vida dele. Mas Deus é maior e a justiça do Senhor será feita — declarou a primeira-dama.
No último dia 7, durante culto na Igreja Batista Lagoinha, em Belo Horizonte, e ao lado do presidente, Michelle afirmou que o Palácio do Planalto era consagrado a demônios antes da posse de Bolsonaro. "E hoje é consagrado ao Senhor Jesus", disse ela na ocasião.
Possuído
O tema permeou também a fala de Lula no primeiro dia oficial da campanha. O petista discursou na porta de uma fábrica da Volkswagen em São Bernardo, onde viveu por quatro décadas e construiu sua trajetória política como sindicalista.
— Você (Bolsonaro) foi negacionista, você não acreditou na ciência, não acreditou na medicina, você acreditou na sua mentira. Se tem alguém que é possuído pelo demônio, é esse Bolsonar — afirmou o petista. — Ele é um fariseu, está tentando manipular a boa-fé de homens e mulheres evangélicos. Eles ficam contando mentira o tempo inteiro, sobre o Lula, sobre a mulher do Lula, sobre vocês, sobre índio, sobre quilombola.
Outros candidatos
O assunto, porém, ficou restrito aos dois candidatos. Em Guaianases, periferia de São Paulo, Ciro Gomes (PDT) foi o primeiro, entre os principais concorrentes, a cumprir uma agenda de rua. Antes das 8h, o pedetista iniciou caminhada pelo bairro, pedindo votos aos moradores.
Já a candidata do MDB, Simone Tebet, se reuniu com representantes do setor cultural, em evento para cerca de 40 pessoas na residência do casal Teresa e Candido Bracher, ligados ao banco Itaú, no bairro Alto de Pinheiros, também na capital paulista. Tebet disse que o Brasil precisa retomar a importância no cenário internacional e fortalecer o Ministério das Relações Exteriores. Se eleita, afirmou que vai recriar o Ministério da Cultura.