O jornalista Bruno Pancot colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço
O que deveria ser rotina há muito tempo — a mulher na chefia de Poderes — ainda é tão raro que quatro pioneiras aproveitaram um evento do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RS) para uma foto reveladora. O que elas têm em comum? Foram as primeiras mulheres a ocupar os cargos de governadora, presidente do TRE-RS, da Assembleia Legislativa e do Tribunal de Justiça do Estado. Estão na foto Yeda Crusius, a desembargadora Elaine Harzheim Macedo, a deputada Silvana Covatti e a desembargadora Iris Helena Medeiros Nogueira.
Além delas, o registro poderia incluir Simone Mariano da Rocha, a primeira mulher a chefiar o Ministério Público estadual, entre 2009 e 2011, escolhida justamente por Yeda. Outra personagem pioneira é a professora Eunice Ferreira Nequete, a primeira a comandar a Procuradoria Geral do Estado (PGE) de 1996 a 1998.
— Creio que estamos caminhando a passos largos. Nós podemos dizer que a luta das mulheres é recente, que as conquistas vêm a conta gotas. Nós precisamos nos apoiar. Nada contra os homens. Nós queremos ocupar espaços até então não ocupados por nós. Nós queremos paridade, igualdade — avaliou a desembargadora Íris Helena.
Precursora ao tornar-se a primeira e única mulher a governar o Rio Grande do Sul, Yeda relembrou no evento do TRE que também foi uma das primeiras representantes femininas eleitas pelo Estado para o cargo de deputada federal, no pleito de 1994. Naquela eleição, apenas outras duas mulheres se elegeram com o voto gaúcho para cargos eletivos em Brasília: a professora Esther Pillar Grossi (PT) e a senadora Emília Fernandes (PTB).
Yeda afirma que as mulheres são cotidianamente vítimas de "violência política" e cita diferentes formas de discriminação nos ambientes públicos: não dar acesso à palavra, não abrir o microfone no Parlamento, não ter banheiro feminino e não aceitar a agenda feminina.
— Há uma cultura que faz com que os homens se encontrem para combinar as coisas e as mulheres ou não são chamadas ou os lugares são impróprios. As mulheres ficam excluídas da criação de consensos e das negociações. É difícil entrar em um ambiente masculino. A voz da mulher não é muito aceita. Tem que ter políticas afirmativas para mudar — diz a tucana, que preside o PSDB-Mulher e ministra palestras em diferentes Estados para engajar e capacitar mulheres para a política.
A desembargadora Elaine destacou que, apesar dos avanços, apenas 13% dos cargos eletivos no Executivo, Legislativo e Judiciário são ocupados por mulheres na atualidade. Ou seja: a maioria dos cargos de decisão seguem ocupados por homens.
— O acesso é restrito, seja por questão de cotas, de comandos, de que as mulheres precisam dividir as suas tarefas. Nós temos uma luta recente, que está em andamento.
Na mesma linha, Silvana reforçou a necessidade de ampliar a presença feminina nos postos de decisão, inclusive porque as mulheres têm "um olhar diferenciado dentro da política.”
— Nós temos que estar ao lado dos homens, e os homens têm que estar do nosso lado. Somos 10 deputadas hoje, quando iniciei éramos cinco.