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O jornalista Fábio Schaffner colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço
A bancada gaúcha na Câmara consumiu R$ 1,5 milhão fazendo propaganda do próprio mandato somente nos cinco primeiros meses de 2022. O gasto demonstra mais uma vez o desequilíbrio nas condições de competitividade entre quem tenta a reeleição e os novatos que disputam uma cadeira de deputado. Não bastassem as emendas parlamentares – e agora as emendas PIX e as emendas do orçamento secreto –, os atuais deputados desfrutam de uma “cota para exercício da atividade parlamentar”.
São R$ 40,8 mil mensais para dispêndios com manutenção de escritório no Estado, alimentação, combustível, hospedagem, entre outras rubricas. A verba é cumulativa, ou seja, se o gabinete não gastar tudo num mês, pode usar a sobra nos meses seguintes. Levantamento feito pela coluna revela que os 33 titulares e suplentes gastaram um total de R$ 5,8 milhões de janeiro a maio.
Em ano eleitoral, os deputados turbinam os gastos com publicidade já na largada, uma vez que a Câmara proíbe o uso da cota com propaganda nos quatro meses anteriores à eleição. Não à toa, 26% do montante consumido pela bancada gaúcha foram investidos na divulgação dos mandatos.
Quem mais fez autopropaganda foi Bibo Nunes (PL). O deputado direcionou R$ 138 mil para confecção de revistas, informativos, material para redes sociais e outdoors. O valor equivale a 57% de tudo que ele gastou com verba de gabinete em 2022. Na sequência, vêm Fernanda Melchionna (PSOL), com R$ 97 mil, Dionilso Marcon (PT), com R$ 96 mil, e Paulo Pimenta (PT), com R$ 92 mil.
Para o promotor Rodrigo Zilio, que por seis anos coordenou o Ministério Público Eleitoral no RS e atualmente é membro auxiliar da Procuradoria Geral Eleitoral, em Brasília, a destinação de recursos públicos para que parlamentares possam fazer propaganda torna a disputa muito desigual:
— Desde que não haja pedido explícito de voto, o uso dessa verba e gabinete é legal, embora seja um claro elemento de desequilíbrio da competição.
Quatro deputados não gastaram um único centavo com publicidade: Daniel Trzeciak (PSDB), Danrlei (PSD), Henrique Fontana (PT) e Onyx Lorenzoni (PL).
MDB marca data da decisão
Pressionado por fora e rachado por dentro, o MDB finalmente marcou uma data para encaminhar seu rumo nesta eleição. Salvo uma inesperada reviravolta, a reunião do diretório convocada para 10 de julho irá sacramentar a candidatura de Gabriel Souza. A 45 dias do início da campanha, os movimentos erráticos de Eduardo Leite e a resistência da velha guarda emedebista ao tucano praticamente inviabilizaram uma aliança.
Ciente de que passarinho na muda não pia, Gabriel trabalha em silêncio para viabilizar a campanha. Após flertar com a vaga de vice de Leite, o deputado sabe que agora não pode mais recuar na candidatura e evita se indispor com a direção nacional do MDB. Mesmo sob pressão de Simone Tebet, Gabriel confia na boa relação com Baleia Rossi para garantir recursos do fundo eleitoral e montar uma chapa competitiva.
Memória
Observadores atentos da pressão do MDB nacional por um acerto com Eduardo Leite lembram da desastrada intervenção de Leonel Brizola em 1986, quando obrigou o PDT a se unir ao PDS. Na ocasião, a chapa Aldo Pinto-Silverius Kist colheu uma derrota acachapante, quase 1 milhão de votos atrás da dupla Simon-Guazzelli.
Termômetro
Pesquisas recentes identificaram um aumento na rejeição de Eduardo Leite e uma queda nas intenções de voto.
Deu match
Beto Albuquerque avançou algumas casas esta semana na aproximação com o PDT.
Sincericídio
Luis Carlos Heinze perdeu seu segundo marqueteiro nessa eleição. Especialista em campanhas digitais, Marcelo Vitorino já estava trabalhando há pelo menos uma semana, mas acabou dispensado após a equipe do senador descobrir que ele havia feito críticas ao governo Bolsonaro e cogitado votar em Lula. O primeiro marqueteiro, Zeca Honorato, pediu para sair por não concordar com o tom agressivo que Heinze queria imprimir à campanha.
Em família
Os dois deputados estaduais cassados na atual legislatura não pretendem assistir pela TV à campanha eleitoral. Luís Augusto Lara (PL) trabalha para eleger a irmã, Adriana Lara. Já Ruy Irigaray (União Brasil) busca uma cadeira para o pai, o empresário homônimo Ruy Irigaray. Juntos, Lara e Irigaray fizeram quase 160 mil votos em 2018.
Herança
A ação que contesta o valor da dívida do Estado com a União vai trocar de mãos no STF. Relatora da causa, a ministra Rosa Weber assume o comando da Corte em setembro, deixando para o antecessor, Luiz Fux, os 1.038 processos que mantém no gabinete. É praxe no STF que o novo presidente leve consigo somente as ações que estão prontas para julgamento, o que não é o caso do questionamento impetrado em 2012 pela OAB-RS.
Batom
Bibo Nunes (PL) quer desfazer a imagem de que o eleitorado feminino é refratário a Jair Bolsonaro. Para tanto, planeja reunir 5 mil mulheres em um evento de apoio à reeleição do presidente em Porto Alegre. Além do capitão, Bibo quer trazer a primeira-dama Michele Bolsonaro.
Chimango
No Alegrete, Bolsonaro é esperado para o desfile farroupilha do 20 de Setembro. Giovani Cherini (PL) tenta viabilizar a agenda, considerada impraticável num município a 500 quilômetros de Porto Alegre a duas semanas do primeiro turno.
Porta-giratória
A exoneração de dezenas de CCs que pretendem concorrer nas eleições de outubro, e a nomeação de seus substitutos, engrossou o Diário Oficial do Estado nesta sexta-feira (1º), data-limite para afastamento das funções públicas. A publicação teve 479 páginas, ante as 200 usuais.
De volta
Aos poucos, Dilma Rousseff começa a ser reabilitada pelo PT após o turbilhão que culminou em seu impeachment. A ex-prezidnete se reuniu com Edegar Pretto ontem e irá atuar como conselhietoa na campanha do PT ao governo do Estado.
Axé
Lula inaugura hoje, em Salvador, as agendas públicas de campanha. O próximo ato será na Cinelândia, no Rio. A transferência dos eventos de locais abertos ocorre depois de um reforço e reorganização da equipe de segurança.