O “indicativo” de aliança com o PSDB no Rio Grande do Sul, aprovado pela cúpula do MDB nacional, aprofundou ainda mais o fosso que separa a ala gaúcha do ex-governador Eduardo Leite. As reações iradas de uns e o silêncio de outros líderes do MDB torna praticamente impossível a missão do presidente do PSDB, Lucas Redecker, de negociar uma aliança amigável, em nome do projeto iniciado no governo de José Ivo Sartori e que teve continuidade na gestão tucana.
Redecker não quer uma coligação forçada por eventual retaliação do MDB nacional, traduzida no corte de recursos do fundo eleitoral para financiar a candidatura do deputado Gabriel Souza a governador:
— Temos muito mais pontos de convergência do que divergências. Queremos dialogar e mostrar que para o bem do Rio Grande do Sul é melhor estarmos juntos do que divididos.
O presidente do PSDB conversou pela última vez com seu equivalente no MDB, Fábio Branco, quando formalizou o convite para o partido indicar o vice de Leite. Quando a cúpula do MDB decidiu pela coligação, Branco limitou-se a dizer que a candidatura no Rio Grande do Sul será decidida pelas instâncias partidárias, mas ainda não convocou a executiva nem o diretório.
Gabriel, que não foi à reunião do partido em Brasília porque estava gripado e sem voz, mantém a disposição de concorrer, mas não esconde dos companheiros a preocupação com o risco de a direção nacional cortar os recursos do fundo eleitoral. Como não há regra para a distribuição do dinheiro, os caciques acabam decidindo como empregar a verba. No caso do MDB, são R$ 300 milhões para financiar candidatos em todo o Brasil. Sem dinheiro público e com as doações empresariais proibidas, uma candidatura a governador ou senador torna-se inviável.
A senadora Simone Tebet, que pressiona pelo apoio a Leite como contrapartida à decisão do PSDB de fechar uma aliança com ela, cometeu um erro de cálculo: imaginou que o ex-senador Pedro Simon abraçaria sua causa. Simon declarou apoio a ela na mesma nota em que defendeu a candidatura própria. Contra a aliança com Leite trabalham abertamente o ex-governador José Ivo Sartori, o vereador Cezar Schirmer, o deputado federal Osmar Terra, o ex-vice-governador José Paulo Cairoli e o deputado estadual Tiago Simon, além da Juventude Estadual do MDB.
Schirmer e Cairoli estão dispostos a disputar a convenção do MDB, caso Gabriel desista de concorrer, para não permitir que o partido apoie Leite. Gabriel não pensa em desistir. Até por isso, diz uma pessoa de sua confiança, não brigou com a direção nacional. Quer manter boas relações com o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, que tem a chave do cofre.
Os deputados estaduais que sustentaram a candidatura de Gabriel têm evitado manifestações mais contundentes. O discurso corrente no MDB é de que, por tradição, o partido não pode abrir mão da candidatura própria. O prefeito Sebastião Melo diz que não quer entrar na discussão, porque tem “um condomínio de 15 partidos para administrar na prefeitura”, mas até as pedras do Paço Municipal sabem que, nos bastidores, é um dos maiores críticos da aliança com Leite, só defendida abertamente pelo ex-governador Germano Rigotto e pelo ex-prefeito José Fogaça.
A rejeição a Leite tem um rosário de motivos. Primeiro, as feridas ainda não cicatrizadas da eleição de 2018, quando disse que Sartori precisava “levantar a bunda da cadeira”. Segundo, a promessa de que não seria candidato. Terceiro, o estímulo à candidatura de Gabriel, que precisou forçar a barra para ser escolhido. Quarto, o vaivém entre a Presidência e o governo do Estado, com a renúncia em março. Quinto, o fato de negociar com a cúpula nacional o que não conseguiu fechar com a direção estadual.