Mais um capítulo da disputa interna do MDB a respeito da candidatura ao Palácio Piratini ocorreu nesta quarta-feira (29), com a aprovação de um “indicativo” na executiva nacional do partido em favor da aliança com o ex-governador Eduardo Leite (PSDB).
“A executiva nacional do MDB acaba de aprovar - por unanimidade - o indicativo em favor da aliança com o PSDB e o Cidadania para a disputa do governo do Rio Grande do Sul. A chapa única é fundamental para o projeto em torno de Simone Tebet”, postou, no Twitter, a direção nacional.
O presidente estadual da legenda, Fábio Branco, respondeu logo em seguida: “Respeito o MDB nacional, mas a decisão sobre as eleições no Rio Grande do Sul será do MDB-RS, como sempre foi. Reafirmo a candidatura própria ao governo do Estado. Vou convocar a executiva para acionar nossas instâncias partidárias e deliberar o assunto”, escreveu Branco, em sua conta na mesma rede social.
O indicativo aprovado pela direção nacional do MDB não é uma imposição nem intervenção, mas amplia a pressão pela retirada da pré-candidatura do deputado estadual Gabriel Souza (MDB) em favor do apoio a Leite. Neste cenário, o emedebista é cotado para ser vice na chapa do tucano. O gesto seria uma retribuição à decisão da federação PSDB-Cidadania de apoiar a pré-candidatura da senadora Simone Tebet (MDB) à Presidência. Essa reciprocidade é cobrada nos bastidores pelos tucanos.
Gabriel é membro da executiva nacional, mas não participou da reunião desta quarta-feira. Dentre as lideranças gaúchas, quem esteve presente foi o deputado federal Osmar Terra (MDB), da ala emedebista simpática ao bolsonarismo. Os relatos são de que Terra, durante a reunião, se manifestou contra a aliança do MDB com Leite. Mas, no momento de aprovar o indicativo, quando questionado se alguém era contrário, ele não teria erguido o braço. A reportagem tentou contato com Terra, que é vogal da executiva nacional, mas não houve retorno do parlamentar.
O MDB gaúcho vive situação de divisão e intensa disputa nos bastidores. Apenas o ex-prefeito José Fogaça e o ex-governador Germano Rigotto saíram publicamente em defesa do apoio a Leite, argumentando que o enfrentamento aos extremos torna o movimento necessário. A avaliação de bastidor é que Gabriel teria simpatia pela ideia de ser vice de Leite, mas qualquer movimento dele esbarra na ferrenha oposição da militância e da juventude do MDB. Lideranças da velha guarda, como Cezar Schirmer e o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, são notoriamente contrários ao acordo com o PSDB. Nos últimos dias, o ex-governador José Ivo Sartori e o ex-senador Pedro Simon, líder máximo do MDB gaúcho, romperam o silêncio e defenderam a manutenção da candidatura própria, um símbolo histórico do partido no Rio Grande do Sul.
A nominata majoritária do MDB ao Palácio Piratini, hoje, está isolada. Uma tentativa de robustecer o palanque foi feita nos últimos dias com o convite para que Ana Amélia Lemos (PSD) concorra novamente ao Senado na chapa liderada por Gabriel. Ex-senadora, Ana Amélia também é cotada para disputar o cargo alinhada com Leite.
Em recente entrevista a GZH, o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, negou que poderia cortar o acesso do diretório gaúcho ao fundo eleitoral em caso de resistência ao acordo de palanque único com o PSDB no Estado.
Após as manifestações do MDB, Leite também externou sua posição em rede social, mais longa, repartida em três postagens.
"Recebo a posição do MDB nacional como demonstração de sinergia com o espírito que moveu o PSDB a abrir mão de candidatura própria à Presidência. Estamos diante de eleição que exige conjugação de forças no centro para enfrentar polos de radicalização. Compreendo que o MDB-RS tem total legitimidade para buscar protagonismo de candidatura própria e que encaminhará como julgar apropriado este indicativo. Nossos projetos para o Rio Grande do Sul têm sinergia e confrontaremos, localmente, representantes das forças que polarizam nacionalmente. Confio em nosso capacidade de composição em torno de um projeto para o futuro do Rio Grande do Sul. Independentemente do caminho que vierem a escolher, manifesto meu respeito ao deputado Gabriel Souza e sua pré-candidatura", escreveu Leite.