Pré-candidato do MDB ao Palácio Piratini, o deputado estadual Gabriel Souza segue pressionado e sem opções fáceis pelo caminho. Nesta terça-feira (14), ele reuniu-se com o presidente nacional da sigla, o deputado federal Baleia Rossi, em São Paulo. Por vídeo, participou o presidente do partido no Estado, Fábio Branco.
Gabriel reiterou que mantém a pré-candidatura, mas voltou a ouvir pedidos de Baleia pela abertura de diálogo para uma composição com o ex-governador Eduardo Leite que una o centro democrático e fortaleça o palanque gaúcho para a presidenciável Simone Tebet (MDB). O MDB gaúcho está fraturado e o ambiente é tenso. Por um lado, Gabriel poderá receber amarga reprovação da militância, da juventude e de parte da velha guarda caso torne-se candidato a vice na chapa de Leite. Por outro, caso resista, o indicativo é de que concorrerá ao governo com uma chapa de poucos aliados e prejudicada pela disputa das mesmas porções do eleitorado com Leite.
Confira abaixo a entrevista com Baleia Rossi, concedida pouco depois da reunião com Gabriel, na qual ele chama ao debate lideranças como o ex-senador Pedro Simon (MDB).
Gabriel é candidato em definitivo ou isso pode mudar?
Baleia Rossi - O Gabriel é uma grande liderança. Ele tem toda qualificação para representar o MDB como pré-candidato a governador. Ele reafirmou a vontade de ser pré-candidato. Como presidente nacional do partido, eu fiz ponderações pedindo que a gente possa abrir uma conversa com o (ex) governador Eduardo Leite (PSDB), já que a bancada estadual do MDB foi extremamente importante para que a pauta do governo avançasse na Assembleia. Com a oficialização da pré-candidatura do Leite, o quadro tem uma novidade de grande repercussão. O nosso pedido é que o Gabriel, que o Fábio Branco e que as nossas lideranças abram um diálogo no sentido de repetir o que estamos fazendo em nível nacional.
Temos a candidatura da Simone Tebet, que é uma nova realidade do MDB nacional, com apoio do PSDB e do Cidadania. É uma candidatura que tem representatividade num quadro polarizado. Essa briga entre os extremos prejudica a vida das pessoas. Nós unificamos o centro democrático. O ideal seria repetir essa unidade do centro democrático no RS. Foi esse o pedido que eu fiz. É muito importante para que a gente consolide a nossa candidatura nacional.
O que responderam Gabriel e Branco sobre o pedido?
Baleia - Existe uma compreensão de que o diálogo é possível. Temos lideranças que respeitamos pela sua história, como o (ex-senador) Pedro Simon, grande referência do MDB. A senadora Simone Tebet já conversou com o Simon. Queremos construir esse diálogo buscando o convencimento. Para o MDB, a unidade do centro democrático é vital para que a gente não fortaleça os extremos. A eleição não está decidida, mas quanto mais dividirmos o centro democrático, menos força teremos para colocar uma candidatura alternativa.
A Simone teria ligado ao Simon pedindo ajuda para construir unidade. Ele teria dito que alguém precisava fazer o primeiro movimento. No momento de impasse, seria importante a liderança dele?
Baleia - O (Germano) Rigotto e o (José) Fogaça fizeram manifestações na semana passada para abrir esse diálogo. A Simone Tebet conversou várias vezes com o senador Pedro Simon. Eu tenho convicção, e digo isso porque escutei da própria Simone, que há o entendimento por parte do Simon da importância que tem a candidatura dela. Representa uma alternativa aos polos e se fortaleceu com a vinda do PSDB e do Cidadania. Isso aumentou a capacidade de crescimento.
Claro que uma palavra de compreensão da importância desse movimento nacional por parte do Pedro Simon é algo que fortalece o MDB e a nossa tese de que precisamos de um reposicionamento político do partido, sendo o grande protagonista de um novo momento para o país. Para deixarmos de votar naquele que significa o menor pior. Triste o país que poderá ter um presidente da República eleito pela rejeição maior do seu oponente.
O impasse no RS pode abalar a aliança nacional com o PSDB na chapa liderada pela senadora Simone Tebet?
Baleia - Fizemos um compromisso com o PSDB nacional, já que eles definiram por apoiar a nossa pré-candidatura da Simone, de dialogar e buscar uma aliança no RS. É claro que isso não vai acontecer da noite para o dia. É algo que precisa ser trabalhado, muito bem conversado, mas acredito que é absolutamente possível. Precisamos fazer todos os movimentos necessários para que haja fortalecimento do centro democrático.
O que a direção nacional conversou com a bancada estadual e lideranças do MDB gaúcho nas últimas semanas sobre alianças?
Baleia - Com a oficialização da candidatura do Eduardo Leite, temos uma nova realidade. Como a bancada estadual do MDB sempre foi parceira na agenda de recuperação do Estado, primeiro com (José Ivo) Sartori e, depois, na continuidade dessa agenda com o Leite, entendo que essa nova realidade merece reflexão pelos companheiros do MDB. As bancadas estadual e federal serão decisivas nessa construção.
Há risco de o MDB ficar com uma chapa esvaziada no RS, sem aliados e com Leite ocupando o espaço do centro? Isso afetaria o desempenho da sigla na eleição à Assembleia e à Câmara?
Baleia - Não devo fazer essa análise porque o MDB sempre teve muita força no RS. O partido tem base e militância aguerrida. Se a decisão for pela candidatura própria, tenho certeza que o MDB saberá defender ideias e legado. Mas entendo que há espaço para diálogo com Leite para que possamos caminhar juntos, com a eleição de uma bancada forte de deputados federais e estaduais. Essa é a construção que nós vamos fazer.
Há rumor de que a direção nacional pode restringir o acesso do MDB gaúcho ao fundo eleitoral como pena por não aderir à aliança do centro. O senhor descarta?
Baleia - O MDB é um partido democrático e não fará nenhum tipo de imposição. O que existe é um compromisso de buscar convergências. Tenho convicção de que conseguiremos isso. Não há nenhuma ameaça, não é assim que a gente faz política.
Então, se depois de feitos todos os esforços, a decisão regional ainda for a de manter a candidatura de Gabriel, o MDB nacional irá acatar?
Baleia - O MDB nacional vai trabalhar para que a gente consiga unir o centro democrático. Em nível nacional, isso foi construído em seis meses. Não estamos dando ultimato, sabemos que precisa de amadurecimento. Daremos o tempo que o MDB do RS precisa para que isso ocorra.
Caso insista na pré-candidatura de Gabriel, seria coerente que o MDB gaúcho deixe os cargos, alguns deles relevantes, que ocupa no Palácio Piratini?
Baleia - Essa é uma decisão do diretório estadual. Não é assunto que o MDB nacional pretenda interferir. A gente sabe que a consolidação das pré-candidaturas ocorre neste mês de junho, mas acredito que temos tempo ainda para construir a unidade.