A visita do presidente Jair Bolsonaro ao Rio Grande do Sul teve clima de comício nas cidades de Pelotas, Bagé e Passo Fundo, pelo tom dos discursos, pela ocupação de espaços pelos pré-candidatos, pela presença de simpatizantes vestidos de verde amarelo, pelas vaias às autoridades de outros partidos. Bolsonaro exaltou seu próprio governo e criticou os adversários, enquanto a torcida organizada aplaudia e gritava seu nome.
Nos palcos transformados em palanques, brilhou a figura da primeira-dama Michelle Bolsonaro, com direito a beijo na boca diante dos fotógrafos. O uso da imagem de Michelle para quebrar a resistência das mulheres, segmento do eleitorado em que Bolsonaro enfrenta altos índices de rejeição, é uma recomendação dos aliados, especialmente da ex-ministra Damares Alves, que será candidata pelo Distrito Federal.
Nos primeiros minutos de seu discurso durante a entrega das obras de ampliação do aeroporto Lauro Kortz, de Passo Fundo, Bolsonaro deixou claro aos apoiadores que decidiu mesmo ter palanque duplo na eleição para o governo do Rio Grande do Sul. Depois de saudar o vice-presidente Hamilton Mourão, que disputará o Senado pelo Republicanos, fez questão de citar os dois concorrentes que disputam o voto bolsonarista na corrida ao Piratini:
— Cito aqui meu vice, general Mourão, e duas pessoas velhas amigas minhas do Congresso: o senador Luis Carlos Heinze e o deputado Onyx Lorenzoni.
Tanto Heinze (PP) quanto Onyx (PL) foram muito aplaudidos pelos fãs de Bolsonaro, mas depois que o nome do ex-ministro foi citado, parte do público entoou o grito de "já ganhou".
Mourão concorrerá na chapa de Onyx, que é do partido do presidente, mas o PP também está fechado com Bolsonaro e Heinze é amigo de Bolsonaro há décadas. Além disso, foi o principal protagonista na defesa das ações do governo durante a CPI da Covid.
Vaias em Pelotas e Passo Fundo
Em um ato de desrespeito e falta de civilidade, que reforçou ainda mais o clima de palanque eleitoral, os simpatizantes de Bolsonaro vaiaram o governador Ranolfo Vieira Júnior e a prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas, do PSDB, a ponto de ficar difícil entender o que disseram sobre a duplicação da BR-116. Em Passo Fundo, a falta de civilidade se repetiu: foi impossível ouvir o discurso de Ranolfo e do prefeito Pedro Almeida (PSD), que só queriam destacar a importância da reforma do aeroporto.
Ninguém foi mais xingado pelos bolsonaristas na cerimônia realizada em Passo Fundo do que o deputado estadual Mateus Wesp (PSDB). Originário do município, Wesp chegou quase uma hora antes de Bolsonaro e teve de ouvir desaforos contínuos de apoiadores do presidente. Os gritos de "Fora, Wesp" e "Traíra" foram os mais entoados.
Apesar de conservador, Wesp é tucano e próximo do ex-governador Eduardo Leite, motivo suficiente para despertar a ira dos bolsonaristas fanáticos.
Marola com a urna eletrônica
Acuado pelas denúncias de corrupção no Ministério da Educação, que prefere tratar como “erro involuntário”, o presidente Jair Bolsonaro ressuscitou seu fantasma preferido em Pelotas: a urna eletrônica.
O discurso soa como golpista ou paranoico, quando diz:
— Os votos das eleições de outubro serão contados. Não somos obrigados a acreditar em duas ou três pessoas, como se fossem os donos da verdade.
Os votos serão contados como sempre foram: nos boletins de urna, depois totalizados no TSE. Não existe isso de “duas ou três pessoas”. São equipes que cuidam do mesmo sistema que o elegeu.