Em seu segundo compromisso no Rio Grande do Sul nesta sexta-feira (8), o presidente Jair Bolsonaro permaneceu pouco mais de uma hora em Bagé. O presidente chegou às 12h13min e em seguida visitou as obras da unidade de radioterapia da Santa Casa de Caridade. Com capacidade para atender de 80 a 120 pacientes por dia, as instalações receberam R$ 10 milhões em recursos federais e devem entrar em operação entre julho e agosto.
Bolsonaro inaugurou o prédio, mas a prefeitura ainda aguarda a chegada e instalação dos equipamentos para dar início aos atendimentos.
Em 2014, a Câmara de Vereadores aprovou uma lei ainda hoje em vigor proibindo a inauguração e entrega de obras inconclusas "ou que não atendem ao fim a que se destinam". No final do ano passado, o vice-presidente Hamilton Mourão já havia participado de uma solenidade no local. Na época, 80% das obras estavam concluídas.
No discurso de 6min30s, Bolsonaro agradeceu a acolhida, citou os investimentos do governo na cidade e mencionou as obras da barragem da Arvorezinha, conduzidas pelo Exército, para criticar as administrações do PT no município.
— Esse partido, com essa cor, em tudo que põe a mão vai para o buraco _ disse.
Coube ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a fala política mais incisiva. Em referência a um discurso em favor da legalização do aborto feito pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no início da semana, Queiroga salientou que o governo é completamente "contra o aborto".
— Respeitamos as exceções da lei, mas somos defensores da vida desde a concepção — declarou.
Diferentemente da visita anterior de Bolsonaro à cidade, em 2020, desta vez a mobilização popular foi pequena. Praticamente não se viam bandeiras do Brasil nas residências nem aglomerações nas esquinas. Vendedores ambulantes reclamavam do movimento fraco nas vendas de adereços, como bandeiras e camisetas.
Nem mesmo entre os ruralistas, base numerosa do presidente no município, houve grande articulação — em 2020, havia piquetes montados no trajeto do comboio presidencial e Bolsonaro chegou a descer do carro para montar a cavalo em meio à multidão. No entorno do aeroporto, por volta das 10h, apenas três professoras aguardavam ansiosas a chegada de Bolsonaro.
— Da outra vez, ele desceu do carro e me deu um abraço. Eu torço muito e rezo pelo presidente todos os dias. Quero agradecer por tudo que ele está fazendo pelo Brasil — contou Vera Borges, vestida de verde e amarelo e empunhando uma bandeira nacional.
A movimentação aumentou perto do meio-dia, horário previsto para a chegada do presidente. O avião presidencial aterrissou pouco depois do meio-dia, quando dezenas de políticos ocupavam o saguão. Tão logo desembarcou, Bolsonaro participou de ato evangélico ainda no aeroporto. Fora da agenda oficial, o compromisso contou com a presença de cerca de 15 pastores da região.
Em frente à Santa Casa, um grupo com cerca de 20 apoiadores ficou em um cercadinho. Outro contingente maior teve permissão para entrar na área do complexo hospitalar e assistir à cerimônia. Aos gritos de "Lula ladrão, teu lugar é na prisão" e "Bolsonaro, cadê você, vim aqui só pra te ver", eles ocuparam uma lateral do palco, bem em frente ao microfone onde o presidente discursou.
Na chegada, Bolsonaro percorreu os gradis, cumprimentando e tirando fotos com os simpatizantes. Na sequência, repetiu o gesto no cercadinho das autoridades. O presidente estava acompanhado da primeira-dama, Michelle, do vice, dos ministros Marcelo Queiroga (Saúde), Marcelo Sampaio (Infraestrutura), Marcos Montes (Agricultura) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), além de mais de uma dezena de parlamentares.
Num rápido discurso de boas-vindas, o prefeito Divaldo Lara (PTB) agradeceu ao presidente pelos investimentos federais na cidade e, emocionado, contou ter perdido a mãe e uma irmã para o câncer.
Pela primeira vez participando de uma comitiva presidencial no Estado, a primeira-dama recebeu o microfone de Bolsonaro e destacou o investimento no tratamento do câncer. Em seguida, encerrou a fala citando o slogan de campanha do presidente "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos".
Ao final da cerimônia, que durou pouco mais de meia hora, o presidente fez uma rápida visita às obras da barragem. Com capacidade para armazenar 18 bilhões de litros de água em 322 hectares, a represa está sendo construída pelo Exército desde dezembro, mas as primeiras máquinas e equipamentos só começaram a chegar há duas semanas. A previsão é de que as obras se estendam por até quatro anos.
Já no aeroporto, instantes antes de embarcar para Passo Fundo, Bolsonaro falou com a imprensa enquanto cumprimentava apoiadores. Questionado sobre como esperava que a Justiça Eleitoral contasse os votos da eleição presidencial, conforme se manifestara mais cedo em Pelotas, ele disse que o Exército havia enviado sugestões à Justiça Eleitoral:
— As Forças Armadas apresentaram sugestões que praticamente dissipam qualquer ilação de possível fraude. Todo sistema informatizado do mundo todo requer cuidados constantes e com o TSE não é diferente. Então foram sugestões que a gente espera que sejam acolhidas.
Na sequência, o presidente comentou a inflação de 1,62% registrada em março, maior índice para o mês nos últimos anos 28 anos. Segundo Bolsonaro, o aumento dos preços é fruto da guerra da Ucrânia, da escassez de chuva e da suspensão das atividades no comércio durante a pandemia.
— Não fechei nenhum comércio no Brasil, sempre falei que tinha de cuidar da economia e também de combater o vírus. Sempre fiz a minha parte. Se você comparar o Brasil com o mundo, é um dos países que na economia está melhor se saindo — afirmou, citando ainda a redução na tarifa de energia elétrica com o retorno da bandeira verde a partir da próxima semana.