Quem teve paciência para acompanhar as cerca de quatro horas da audiência pública promovida pelo Ministério da Saúde para tratar da vacinação de crianças de cinco a 11 anos assistiu a um embate entre a ciência e a política, e a medicina e o charlatanismo.
Aos depoimentos de especialistas como Marco Aurélio Sáfadi, Rosana Richtmann e Renato Kfouri contrapuseram-se os representantes da Câmara dos Deputados, três médicos escolhidos a dedo por bolsonaristas juramentados como a presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Bia Kicis (PSL-DF). São eles, Roberto Zeballos, José Augusto Nasser e Roberta Lacerda.
Os três são críticos da vacina em geral e da imunização de crianças em particular, alguns deles notórios divulgadores de notícias falsas ou manipuladores de dados que distorcem relatórios para chegar à conclusão de sua preferência. São conhecidos das redes sociais por pregarem o uso de tratamentos sem eficácia comprovada.
Os presidentes das sociedades médicas e dos conselhos de secretários de saúde dos Estados e dos municípios manifestaram-se contra a exigência de prescrição médica para a vacinação de crianças, tese defendida pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para quem não basta o desejo dos pais.
Para indignação dos cientistas que acompanhavam a audiência, Zeballos chegou a dizer que a vacina da Pfizer é emergencial e que não há “emergência em vacinar as crianças”. Falso. A Vacina da Pfizer já tem registro na Anvisa.
A imunologista Cristina Bonorino, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e pesquisadora das mais respeitadas, expert em vacinas, desabafou em seu perfil no Twitter: “Dia histórico - sim, de tristeza sem fim - em que o Ministério da Saúde arma um circo para 'debater' se inclui crianças na vacinação. Que tristeza ver meus colegas precisarem defender isso. E ainda ter que ouvir argumentos ignorantes e mentirosos sobre por que não fazer”.
Se o governo respeitar o que a maioria defendeu na audiência pública e o que a população sugeriu, a vacina será oferecida às famílias que quiserem vacinar seus filhos, sem necessidade de receita médica. Porque insistir na necessidade de prescrição será marginalizar ainda mais as populações carentes ou de regiões remotas do país, que acabarão ficando sem vacina, enquanto as classes mais abastadas terão o imunizante à disposição.
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