A relação do presidente Jair Bolsonaro com o ex-ministro Sergio Moro foi do céu ao inferno em menos de dois anos. De esteio moral do governo, quando foi convidado para assumir o Ministério da Justiça, a traidor, quando pediu demissão, passaram-se exatos 540 dias. O comentário feito por Bolsonaro nesta quinta-feira (11) sobre o discurso do ex-juiz na filiação ao Podemos lembra os divórcios litigiosos, em que os ex-cônjuges desdenham do companheiro por quem foram apaixonados.
— Vocês gostaram do discurso lido pelo cara ontem? O cara leu… Eu assisti porque foi meu ministro, né? Li o discurso, tinha dois teleprompters lá. Não aprendeu nada, não aprendeu nada. Ficou um ano e quatro meses ali, não sabe o que é ser presidente nem ser ministro — disse Bolsonaro a apoiadores concentrados em frente ao Palácio do Planalto.
O tom de desdém era de quem sentiu que Moro pode ser a pedra no seu sapato na eleição de 2022. Porque não são apenas os outros candidatos da terceira via que podem perder votos para o ex-juiz. Bolsonaro também tem muito a perder. Essa é uma obviedade: Moro não tira votos do ex-presidente Lula, porque os dois sempre estiveram em lados opostos. Já Bolsonaro é o criador da figura política em que o ex-magistrado se transformou.
Mais tarde, em uma cerimônia no Planalto, Bolsonaro defendeu a PEC dos Precatórios, que foi aprovada na Câmara e deve viabilizar o pagamento do Auxílio Brasil. No dia anterior, em seu discurso de filiação, Moro criticou "o calote de dívidas e o furo do teto de gastos".
A dificuldade do ex-juiz para ler o texto no teleprompter (dois, no caso) era visível. Mas se tem alguém que não pode falar de quem lida mal com o teleprompter é o próprio Bolsonaro.
Seus pronunciamentos em cadeia nacional atestam que ele também se atrapalha com as pausas de vírgulas e pontos. Moro tem problemas de dicção e timbre de voz, mas o conteúdo do discurso não mostra que ele “não aprendeu nada”. Ao contrário: ficou claro que ele sabe por quais flancos pode atacar Bolsonaro e Lula.
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