A queda de quatro integrantes da equipe do ministro Paulo Guedes, no final da tarde desta quinta-feira (21) de sobressaltos, é consequência direta da opção do presidente Jair Bolsonaro por mandar às favas a responsabilidade fiscal para tentar viabilizar seu projeto de reeleição. A debandada já era esperada diante da derrota dos técnicos que alertavam para o risco de furar o teto de gastos, provocar mais inflação e anular os ganhos de um aumento do Bolsa Família rebatizado. Pediram demissão o secretário de Orçamento, Bruno Funchal, o secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bitencourt, e os adjuntos dos dois, Gildenora Dantas e Rafael Araujo.
Como é praxe em crises como esta, o quarteto esperou o fechamento do mercado financeiro para anunciar o pedido de demissão alegando motivos pessoais, que na verdade são políticos. Funchal e Bitencourt vinham sinalizando que não aceitariam continuar nos cargos se tivessem de abrir mão da responsabilidade fiscal, que era um dos compromissos de Guedes e de Bolsonaro. No momento em que o titular da Economia se rendeu e anunciou, ainda na quarta-feira (20), que pediria licença para gastar, abriu a porteira para a passagem da boiada.
O mercado reagiu no idioma que conhece: a Bolsa despencou e o dólar deu novo salto logo na abertura dos trabalhos. Para completar o cenário de descontrole, Bolsonaro anunciou, durante uma cerimônia em Pernambuco, um auxílio para 750 mil caminhoneiros autônomos compensarem o aumento dos gastos com as sucessivas elevações do preço do diesel. Não deu detalhes, mas, para a equipe econômica que conhece a situação fiscal do Brasil, estava claro que se trata de uma nova bola de neve em formação.
O descontrole fiscal afugenta investidores e faz subir o dólar, o que impacta nos preços dos combustíveis e se reflete nos insumos, nos fretes, nos produtos em geral, alimentando a espiral inflacionária. Estará o presidente disposto a rever o valor desse auxílio a cada aumento do diesel provocado pela desvalorização do real ou pela elevação do preço do barril do petróleo?
O arranjo sugerido para pagar o Auxílio Brasil de no mínimo R$ 400 até o final de 2022 é tirar R$ 83 bilhões do valor que deveria ser destinado ao pagamento de precatórios. O cálculo eleitoral é simples: há mais pobres que se beneficiam do aumento do Bolsa Família do que riscos e remediados afetados pelo calote dos precatórios. E, como os Estados não pagam na velocidade que deveriam, o governo federal se sente autorizado a sacrificar esses credores.
O governo poderia ter escapado dessa armadilha se tivesse, de fato, se empenhado na aprovação das reformas que prometeu e feito as privatizações que anunciou. Não se empenhou. A da Previdência passou mais por mérito do então presidente da Câmara, Rodrigo Maia, do que dos articuladores do Planalto.
Aliás
Com Paulo Guedes domesticado e com o governo refém do centrão, será difícil impedir o descontrole dos gastos no ano eleitoral de 2022. O auxílio para os pobres poderia sair das emendas de deputados e senadores, mas nestas o Congresso não aceita mexer.
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