Depois de quatro adiamentos, o empresário Francisco Maximiano, sócio da Precisa Medicamentos, finalmente se apresentou para um "não depoimento" à CPI da Covid no Senado. Com um habeas corpus em punho, garantindo-lhe o direito de ficar calado para não se comprometer, Maximiano fugiu das perguntas que poderiam esclarecer as principais dúvidas dos brasileiros. Ao usar e abusar do direito do silêncio, deixou no ar a conclusão óbvia de que tem muito a esconder.
Por mais maçantes que sejam as sessões da CPI, com perguntas repetitivas, quem não deve, não tem o que temer. Maximiano comportou-se como quem deve e que poderia incriminar outras pessoas se detalhasse as negociações que envolveram o contrato para a compra da vacina indiana Covaxin, revogado a partir do surgimento de denúncias de irregularidades.
Foi uma senadora aliada do governo, a advogada Soraya Thronicke (PSL-MS), que sintetizou o depoimento de Maximiano com maior precisão:
— O silêncio falou alto.
Além de se recusar a dizer a verdade, o sócio da Precisa não quis responder a perguntas elementares sobre suas relações com o Ministério da Saúde, para o qual a empresa fornece preservativos, nem sobre as estranhas cláusulas do contrato com o laboratório Bharat Biotech para fornecimento de 20 milhões de doses a U$S 15 a unidade, mais caro do que os outros imunizantes.
Alguns exemplos de perguntas que ficaram sem resposta, ampliando as suspeitas de corrupção levantadas por Luiz Ricardo Miranda, irmão do deputado Luiz Miranda, funcionário do Ministério da Saúde:
Por que o pagamento deveria ser feito para outra empresa, sediada em um paraíso fiscal? Por que a exigência de pagamento antecipado? Como se explica a incompatibilidade entre sua renda declarada e o padrão de vida que leva, expresso nos gastos com cartão de crédito? Quanto dos US$ 15 por dose ficariam com a Precisa? Por que recorreu a Flávio Bolsonaro para intermediar uma audiência com o presidente do BNDES, Gustavo Montezano?
Em uma das poucas perguntas que Maximiano concordou em responder à CPI, ele disse que conhece o deputado federal Ricardo Barros, ex-ministro da Saúde e hoje líder do governo na Câmara. Mais não disse sobre as relações entre os dois, ponto sobre o qual pairam dúvidas entre os integrantes da CPI.