Passavam poucos minutos da manhã de sábado (14) quando o presidente Jair Bolsonaro publicou dois posts no Twitter avisando que, nesta semana, levará ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, o pedido de impeachment dos ministros Luis Roberto Barroso e Alexandre de Moraes. Bolsonaro disse que pedirá o impeachment de acordo com o artigo 52 da Constituição Federal.
Esse artigo diz que compete ao Senado processar e julgar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Fala também que compete a Casa julgar o presidente da República. O que muda é o rito. No caso dos presidentes, o processo começa na Câmara e termina no Senado, como ocorreu com Fernando Color, em 1992, e Dilma Rousseff, em 2016. No momento, o deputado Arthur Lira, presidente da Câmara, tem 133 requerimentos pedindo o impeachment de Bolsonaro, mas não dá sinal de que pretenda levar algum deles adiante.
No caso dos ministros do STF, a porta de entrada do pedido é o Senado. Na mesa de Rodrigo Pacheco estão pelo menos 10 pedidos de impeachment de ministros. Seu antecessor, Davi Alcolumbre, mandou 36 para o arquivo. Chance de Pacheco atender Bolsonaro e abrir um processo contra Barroso e Moraes? Qualquer coisa próxima de zero.
Pacheco é advogado, sereno como convém ao presidente de uma Casa como o Senado, e sabe que para abrir um processo de impeachment contra ministro do Supremo Tribunal Federal é preciso denúncia muito bem fundamentada e com provas inequívocas. Nada disso existe e Bolsonaro sabe. Está criando um factoide para manter a torcida mobilizada. Ou dando uma satisfação à filha de Roberto Jefferson, a ex-deputada Cristhiane Brasil, que após a prisão do pai postou uma indireta em seu perfil no Twitter: “Cadê o ACABOU, PORRA? Estão prendendo os conservadores e o bonito não faz nada? O próximo será ele! E se não for preso, não poderá sair às ruas já já. ACOOOOOORDA!!!”.
O tuíte de Bolsonaro anunciando que irá ao Supremo veio acompanhado de uma movimentação em grupos de WhatsApp, com a ameaça de caminhoneiros de acampar em Brasília no 7 de Setembro e parar o país se, em 72 horas, o Senado não afastar Barroso e Moraes. Por trás da ameaça, verbalizada por um caminhoneiro de Canoinhas (SC), que tentou ser vereador e não se elegeu, está uma semicelebridade, o cantor Sérgio Reis, 81 anos, deputado estadual pelo Republicanos em São Paulo. É ele que em mensagens de áudio incita os caminhoneiros a trancarem o país.
— Se não fizer nada, nas próximas 72 horas, ninguém anda no país, não vai ter caminhão nem pra trazer feijão pra vocês aqui dentro. Ninguém. Vai parar porto, vai parar tudo — diz em um dos áudios.
Líderes dos caminhoneiros já disseram que Sérgio Reis não os representa e que não darão aval a movimentos golpistas. A greve de 2018 mostrou que é difícil mapear os movimentos dos caminhoneiros, porque a comunicação entre eles se dá por grupos de WhatsApp e boa parte age por conta própria e à margem dos sindicatos.
O menino da porteira
Quem é Sérgio Reis na fila do pão? Um cantor sertanejo e ator bissexto que migrou para a política, mas nunca foi além de deputado federal por São Paulo (2015-2019). Não é o autor do clássico O menino da porteira, como imaginam alguns dos que compartilharam sua pregação arruaceira no fim de semana.
A propósito, a trágica O menino da porteira foi composto por Teddy Vieira e Luis Raimundo, em 1955, e gravado pela primeira vez pela dupla Luizinho e Limeira. Antes e depois de Sérgio Reis, outros cantores sertanejos (raiz ou contemporâneos) gravaram a música que conta a história de um menino morto “por um boi sem coração”. Entre eles, Tonico e Tinoco, Tião Carreiro e Pardinho e, mais recentemente, Michel Teló.