Anunciada nesta segunda-feira (9), a filiação do deputado estadual Rodrigo Maroni ao Partido Verde (PV) provocou um racha na legenda. Por rejeitarem a figura de Maroni, seu modo de fazer política e sua postura como parlamentar, quadros representativos do PV expressaram publicamente a rejeição ao deputado e deixaram os cargos que ocupavam na executiva estadual.
Maroni teve o ingresso aprovado pela executiva estadual do partido por 9 votos a 4, na semana passada, e assinou ficha de filiação em Novo Hamburgo, se anunciando como pré-candidato ao governo do Estado em 2022. Até então, ele estava ligado ao Partido da Mulher Brasileira (PMB).
Horas depois, o médico Montserrat Martins, que concorreu pelo PV a prefeito de Porto Alegre em 2020 — contra Maroni — e a governador do Estado em 2010 publicou uma nota anunciando seu desligamento da executiva. No texto, Monstserrat diz que Maroni "rebaixa o nível da política".
— É um erro inadmissível do PV. Internamente, tentei me manifestar sobre esse erro, mas não consegui evitar — relatou o médico à coluna.
Montserrat acredita que o PV será apenas mais um partido na vida de Maroni (ele já esteve em sete) mas diz que, durante sua permanência, a sigla terá "um enorme prejuízo em sua credibilidade".
No mesmo tom, o vereador de Canoas Cris Moraes, que está há 15 anos no PV, mostra inconformidade com o ingresso do deputado. Ligado à causa animal e à proteção ambiental, Moraes anunciou que está deixando a vice-presidência estadual do PV e a presidência municipal da sigla em Canoas.
Segundo vereador mais votado em 2020, Moraes só não pensa em deixar o partido agora porque poderia perder o mandato por infidelidade partidária.
— Me frustra muito dizer isso, mas se fosse permitido, eu sairia — desabafou.
Responsável pela interlocução com Maroni, o presidente estadual do PV, Marcio Souza, contemporizou as reclamações e disse que Montserrat e Moraes são pessoas "do mais alto valor":
— Eu acolho as manifestações deles com muito respeito, como qualquer democrata acolhe — afirmou.
Souza avaliou que a legenda, que até então não tinha representação na Assembleia, precisava de "uma voz" no parlamento para que as bandeiras defendidas pelo PV possam chegar à população. O dirigente partidário garante que o PV está afinado com o desejo de Maroni de concorrer a governador em 2022:
— Faremos dessa candidatura um instrumento para chamar atenção para o fato de que podemos ter um desenvolvimento sustentável, com mudança na matriz energética, e transformar o Rio Grande do Sul em um exemplo de práticas para melhorar a qualidade de vida das pessoas.
Leia a nota de Montserrat Martins:
Leia a nota do vereador Cris Moraes:
"Milito no Partido Verde desde 2006, o primeiro e único partido em que me filiei até o dia de hoje. Um partido limpo, fora das páginas policiais e, acima de tudo, honesto e ilibado. Um partido que, como sempre falei, não protege “a” ou “b”, protege a vida como um todo.
Porém, hoje aconteceu uma coisa decepcionante para quem, como eu, sempre teve o PV como sua primeira opção. O deputado estadual, que se diz protetor dos animais, o Rodrigo Maroni, qual já passou pelo PT, PSOL, PCDOB, PR, PODEMOS e, só neste último ano foi para o PROS, PMB, PTB e voltou para o PMB, agora virá para o Partido Verde. O deputado que partido nenhum quer. O candidato a prefeito de Porto Alegre, que fez uma campanha baixa e conseguiu fazer menos votos para prefeito do que eu fiz para vereador de Canoas. O homem que se elegeu pela causa animal e que nada, absolutamente nada fez pelos animais. O político que ridiculariza a proteção, fazendo chacota e criando projetos de lei absurdos, não levando nem a proteção muito menos a função de legislador a sério. O cara que inventou um atentado, ainda em 2016, para se eleger vereador da capital.
Esse é o ser que estão trazendo para o Partido Verde... É isso mesmo que a Executiva Estadual quer? Um parlamentar que coloca os 35 anos de existência e luta do PV pela janela? Lamento muito, mas fui voto vencido, juntamente com meus companheiros de Canoas e aqueles que realmente se importam com os animais, na reunião em que o presidente estadual apresentou a proposta. Confesso que estou triste, decepcionado, consternado e, acima de tudo envergonhado por esse fato. Sinto hoje o que nunca senti na vida, vergonha de ser filiado ao Partido Verde do Rio Grande do Sul.
Por estes motivos, hoje comunico que estou abrindo mão da vice-presidência estadual do PV-RS e da presidência municipal do PV-Canoas. Não saio da sigla pelo risco de perder o mandato que não é só meu, é da proteção e dos 3389 canoenses que depositaram em mim sua confiança. Meu trabalho continua, como protetor e como legislador, mas me distancio do partido do qual faço parte há 15 anos por incompatibilidade política, moral e de caráter. Estou realmente triste por ter que tomar essa decisão, mas feliz por nunca ter tido cabresto e ser um representante sério de uma bandeira mais séria ainda, a causa animal!
Por uma cidade, um estado e um país melhor para nós e para os animais, Cris Moraes."