A apresentação do superpedido de impeachment do presidente Jair Bolsonaro produziu uma imagem improvável até bom pouco tempo atrás: antigos e futuros adversários não só assinaram o documento como dividiram a cena e discursaram usando as mesmas expressões para justificar a necessidade de afastamento imediato. Antipetistas convictos que trabalharam pela derrubada da então presidente Dilma Rousseff, como o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), juntaram-se à presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR) e ao deputado Alexandro Molon (PSB-RJ).
Quando Fernando Collor caiu em desgraça, havia dezenas de pedidos de impeachment parados na Câmara, mas o que o derrubou foi o assinado por Marcelo Lavenère, presidente da OAB, e Barbosa Lima Sobrinho, que à época comandava a Associação Brasileira de Imprensa. O requerimento que Eduardo Cunha aceitou e que tirou Dilma Rousseff do poder era assinado por três juristas: Miguel Reale Júnior, Janaína Pascoal e Hélio Bicudo.
Desta vez, entre os 46 signatários do pedido que unifica os outros 124 que estão mofando na Câmara, há juristas, professores, políticos de esquerda, de centro e de direita e líderes de movimentos sociais.
Bolsonarista fanática em um passado recente, a deputada Joice Hasselmann , uma das mais votadas de São Paulo em 2018, chamou Bolsonaro de monstro, genocida e pior presidente do país. Dá para imaginar essas palavras saindo da boca de uma mulher que se dizia “filha de Bolsonaro”, mais fiel dos que filhos numerados de zero a quatro?
— Nunca mais, nem com uma arma na cabeça, esse homem leva um voto meu. Fora Bolsonaro — bradou Joice diante das câmeras, depois de dizer que já pediu perdão o Brasil por ter trabalhado pela eleição do presidente a quem acusa pelo morticínio de pelo menos 200 mil pessoas.
Após uma pausa dramática, Joice continuou:
— Fui líder (do governo) desse monstro, mas minha moralidade e minha legalidade não são seletivas. Este é o pior governo da história deste país. Fui a primeira da direita a sair, quando ele estava com a popularidade em alta. Já pedi perdão ao país por ter ajudado na eleição dele. Bolsonaro não será reeleito, mas o Brasil não aguenta até 2022, por isso assinei o pedido de impeachment.
Um dos líderes do Movimento Brasil Livre (MBL), Kataguiri não era tão próximo de Bolsonaro quanto Joice, mas rompeu os laços com o presidente quando constatou que ele não priorizaria a agenda liberal. No discurso pró-impeachment, ressaltou as diferenças entre os signatários e acusou Bolsonaro de genocídio.
— No futuro estaremos em campos opostos, mas seria pequeno de minha parte não assinar o pedido de impeachment de um genocida que usou a máquina pública para blindar seus filhos.
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