O cargo dado pelo presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto ao general Eduardo Pazuello, ainda na ativa, pode ser interpretado como um prêmio à indisciplina e ao desrespeito à hierarquia nas Forças Armadas. O capitão que teve a carreira militar abreviada por promover atos políticos e ensaiar um atentado terrorista presenteou o general que obedece com uma sinecura de nome pomposo: secretário de Estudos Estratégicos.
O mimo com salário de R$ 16.944,90, que vai se somar ao soldo de general, afronta os oficiais que cumprem à risca as regras das Forças Armadas e estimula a anarquia na caserna.
Pazuello, que no Ministério da Saúde revelou-se um incapaz, vai para Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos, com gabinete ao lado do presidente. É um recado explícito aos generais que pedem punição ao colega por ter desrespeitado uma das regras basilares da instituição, quando participou da motociata de apoio a Bolsonaro no Rio de Janeiro e até fez um breve discurso ao lado do presidente. Se aquilo não foi um ato político, o que teria sido?
Na defesa que apresentou ao Exército, Pazuello teve o despudor de dizer que foi apenas um passeio de moto. Deboche em dose dupla. Para poupar a instituição, o general poderia ter pedido transferência para a reserva, mas tem as costas quentes porque o comandante em chefe das Forças Armadas, o capitão Bolsonaro, lhe dá guarida.
Na CPI da Covid, Pazuello mentiu, também sem qualquer pudor. Chegou ao ponto de dizer que nunca foi desautorizado por Bolsonaro, ignorando os vídeos que mostram o contrário, no caso do anúncio da compra de 46 milhões de doses da Coronavac, em outubro do ano passado. Foi nesse episódio que o general pronunciou a sentença reveladora de sua subserviência: “É simples assim, senhores. Um manda, outro obedece”.