A irresponsabilidade do presidente Jair Bolsonaro no enfrentamento à pandemia ganhou novo capítulo nesta quinta-feira (10), quando ele disse que solicitou ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a elaboração de um parecer para acabar com a obrigatoriedade do uso de máscara para quem já se vacinou ou teve covid-19. A Organização Mundial da Saúde e os cientistas defendem a suspensão do uso de máscara apenas quando se atinge a imunidade comunitária, com a maioria da população vacinada. Foi o que ocorreu nos Estados Unidos, na Austrália e na Nova Zelândia, por exemplo.
Inimigo da máscara desde o início da pandemia, o presidente desafia as regras dos Estados e municípios que visita e se recusa a utilizar o acessório, considerado uma das medidas não farmacológicas mais eficientes para conter a disseminação do vírus. Com sua orientação, desautoriza o próprio ministro Queiroga, que publicamente defende o uso de máscara como medida de proteção.
— Ele (Queiroga) vai ultimar parecer visando a desobrigar uso de máscara por parte daqueles que estejam vacinados ou que já foram contaminados — disse Bolsonaro, em um evento do setor de turismo.
Se a máscara se tornar obrigatória apenas para quem não se vacinou e ainda não teve covid, será a liberação geral, porque não haverá como fiscalizar. O presidente esquece que mesmo quem já foi contaminado corre o risco de se reinfectar e que a vacina aumenta a proteção individual, mas a imunidade só é atingida plenamente quando mais de 60% da população está vacinada.
Não há outra explicação para a conduta de Bolsonaro que não seja a teimosia e o desprezo pela vida e pela ciência. A proposta de liberação do uso de máscara vem no momento em que o Brasil está prestes a atingir meio milhão de mortos, pelos dados oficiais, as UTIs estão lotadas na maioria dos Estados e a média diária de óbitos se estabilizou em um patamar elevado, de cerca de 2 mil, situação completamente diferente da dos Estados Unidos e dos outros países que liberaram a circulação sem máscara.
Cerca de duas horas depois da manifestação do presidente, o ministro da Saúde veio a público dizer que recebeu pedido de Bolsonaro para "produzir um estudo" que trate da flexibilização do uso de máscaras. Em um vídeo postado nas redes sociais e distribuído a jornalistas, Queiroga dourou a pílula e disse que "atenderia a demanda" de Bolsonaro.
— Vamos atender essa demanda do presidente Bolsonaro, que está sempre preocupado em pesquisas em relação à covid.
O episódio lembra a frase icônica do antecessor, Eduardo Pazuello, que sentenciou, ao ser desautorizado:
— Senhores, é simples assim: um manda e o outro obedece.
O presidente, por sua vez, tratou o tema com um pouco mais de cautela em sua live semanal. Na transmissão ao vivo, disse que não impôs nada ao ministro e também mencionou a elaboração de um estudo, e não de um parecer, como dissera mais cedo. Por outro lado, voltou a criticar o uso do adereço.
— Vamos ficar refém de máscara até quando? Está servindo para multar gente, pessoal! — reclamou, antes de disparar contra o governador de São Paulo, João Doria, que ameaçou multá-lo caso compareça em manifestação sem máscara no Estado.
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