Se todas as escolas públicas têm o mesmo plano de carreira para os professores e trabalham sob orientação da mesma Secretaria de Educação, por que tanta diferença entre umas e outras? A retomada das aulas presenciais vem mostrando diferenças abissais não apenas entre escolas públicas e privadas, como imagina o senso comum, mas entre colégios da mesma rede — estadual ou municipal. Como explicar essas diferenças, visíveis nas reportagens que retrataram nos últimos dias realidades tão díspares?
Os casos de sucesso têm em comum três pontos: direção comprometida, professores entusiasmados e comunidade participativa. Nesse círculo virtuoso, nem sempre é possível identificar o que veio primeiro. Sem uma direção inspiradora, que cobra dos governos em vez de ficar lamentando as carências, ou mobiliza a comunidade para resolvê-los, dificilmente o resultado será satisfatório. A diretora — ou diretor — é a figura de referência, mas não faz milagres se o time não jogar junto.
Na Escola Gomes Carneiro, de onde o jornalista Daniel Scola apresentou o Gaúcha Atualidade na quinta-feira (6), foi possível constatar a importância desse tripé. Foi emocionante acompanhar as manifestações de ex-alunos e de seus pais agradecidos pelo que receberam do “Gomão”, sinal de que a construção não começou com a atual direção, mas que trabalhos anteriores tiveram sequência.
A Gomes Carneiro não é a exceção que confirma a regra. Os últimos dias têm sido pródigos em apresentar aos gaúchos exemplos de diretores e professores comprometidos com a educação de qualidade, um direito universal que foi subtraído de parte das crianças durante a pandemia. Se nem para as que têm internet de alta velocidade e equipamentos adequados o ensino remoto substitui a aula presencial, imagine-se para aqueles que não têm nem uma coisa nem outra.
Por falta de motivação, cinco milhões de crianças e adolescentes brasileiros abandonaram a escola desde o início do ano passado. Trazer de volta esse contingente deveria ser a meta número 1 do Ministério da Educação, mas o governo federal age como se o problema não existisse. Prefeitos e governadores terão de tomar para si a tarefa de resgatar os desgarrados, sob pena de roubar-lhes o futuro.
“Não deixar ninguém para trás” é o bordão do Comitê Técnico do Instituto Rui Barbosa, coordenado pelo conselheiro Cezar Miola, do Tribunal de Contas do Rio Grande do Sul. Miola diz que o comitê está trabalhando junto com o Unicef e que é importante mobilizar poder público, famílias e sociedade:
— Também sabemos que é preciso ir além. É preciso que haja motivos para atrair essas crianças e jovens para o retorno ao convívio escolar. Escolas minimamente preparadas, implantando os protocolos sanitários, merenda de qualidade, treinamento dos professores para a nova realidade do ensino, acesso à internet de qualidade e, sobretudo, acolhimento.
Aliás
As crianças menores deram exemplo de responsabilidade no cumprimento dos protocolos. O desafio das escolas públicas, a partir da próxima semana, será garantir a segurança sanitária com o retorno dos adolescentes, em geral mais rebeldes.
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