O segundo dia de depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello foi quase uma reprise da véspera, com a repetição de perguntas que já haviam sido feitas e repetidas acusações de que o general mentiu. O relator, Renan Calheiros (MDB-AL), contabilizou 14 momentos em que Pazuello teria mentido.
— Só 14? Acho que foram até mais. Foi um exercício reiterado de fazer contorcionismo de fatos — disse o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues.
Os momentos mais tensos, novamente, ficaram por conta das intervenções dos senadores amazonenses Omar Aziz (PSD), presidente da CPI, e Eduardo Braga (MDB). Por serem do Estado em que pessoas morreram por falta de oxigênio, Aziz e Braga se exaltaram diante das respostas burocráticas de Pazuello sobre a crise em Manaus.
O ex-ministro foi muito questionado sobre a omissão no episódio da falta de oxigênio e transferiu a responsabilidade para o governo do Amazonas e para a White Martins, empresa que emitiu alertas para o risco de colapso no abastecimento.
A nota cômica do dia foi a afirmação de Pazuello de que foi um hacker quem colocou no ar a plataforma Tratecov, que por um sistema de pontos permitia aos médicos fazer o diagnóstico da covid-19 e prescrever medicamentos como a cloroquina. Cômica porque o próprio governo divulgou a plataforma nas redes sociais e na TV Brasil e Pazuello falou dela em janeiro, numa entrevista ao lado de Maira Pinheiro, ecretária de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde, conhecida como "Capitã Cloroquina", próxima a depor na CPI.
Como a plataforma começou a ser utilizada em Manaus, para onde o governo chegou a enviar milhares de comprimidos de cloroquina, Aziz e Braga acusaram Pazuello de usar a população de Manaus como cobaia. Filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro, o senador Flavio Bolsonaro, que acompanhou os dois dias de depoimento dando pitacos ao microfone ou fora dele, saiu em defesa do Tratecov, dizendo que era “uma tentativa de melhorar e agilizar o atendimento”.
A plataforma era tão falha que o Conselho Federal de Medicina recomendou que fosse tirada do ar. Quem seguisse a risca o sistema de pontuação que levava ao diagnóstico de covid poderia prescrever cloroquina para crianças e grávidas, o que não é recomendado em bula.
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