Ninguém sintetizou melhor o depoimento do ex-chanceler Ernesto Araújo na CPI da Covid do que o comediante Marcelo Adnet, em um sátira na qual imita o narrador Galvão Bueno e chama a atenção para o desempenho confuso do ex-ministro das Relações Exteriores. Gaguejando, como um estrangeiro que procura as palavras, Araújo tentou ganhar tempo e não se comprometer.
O ex-ministro, demitido por pressão dos aliados do governo no Congresso, estava visivelmente desconfortável com a máscara, as perguntas, o clima hostil — ainda que o relator, Renan Calheiros, tenha sido mais brando do que foi com outros interrogados. Araújo tentou sair pela tangente nas perguntas mais comprometedoras e desconcertou alguns senadores com sua estratégia de se fazer de desentendido.
A mais incisiva foi a senadora Kátia Abreu, que tinha contas a acertar com o ex-ministro desde que ele a acusou de fazer lobby em favor da China pela tecnologia 5G. Normalmente enfezada, Kátia criticou a “memória seletiva” do ex-ministro, relembrou momentos em que Araújo fez ataques à China e o acusou de sujar a imagem internacional do Brasil e de levar o país à irrelevância:
— O senhor deve desculpas ao país. O senhor é um negacionista compulsivo, omisso. O senhor no Ministério das Relações exteriores foi uma bússola que nos direcionou para o caos, para um iceberg, para um naufrágio. Bússola que nos levou para o naufrágio da política externa brasileira.
A memória seletiva — ou curta — a que se referiu Kátia Abreu é uma referência às respostas de Araújo de que jamais atacou a China, como se fosse possível esquecer o que está documentado. A senadora lembrou que o trecho da polêmica reunião ministerial de abril do ano passado, mantido sob sigilo, a pedido da Advocacia-Geral da União, era justamente um em que Araújo fazia ataques à China.
Veja a sátira de Adnet
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