Criado em maio do ano passado para servir de bússola às ações de enfrentamento à pandemia, o modelo de distanciamento controlado, com seu sistema de bandeiras, não viveu o suficiente para celebrar o primeiro aniversário. Morreu de exaustão, espancado por pressões externas que têm o retorno às aulas presenciais como foco, mas que são bem mais abrangentes. Há pressões de outros setores pelo levantamento de restrições, mesmo com o número de mortes ainda elevado e longe de se atingir a cobertura vacinal necessária à proteção comunitária.
A decisão judicial que impediu a reabertura das escolas durante a bandeira preta foi a gota d’água. Da noite para o dia, a bandeira preta virou vermelha, sem consulta ao comitê científico que ao longo de um ano colaborou com o governo. Parte dos integrantes perdeu o ânimo para continuar.
Ainda não se sabe como a Justiça vai interpretar a saída encontrada pelo Estado para permitir a retomada das aulas presenciais com o que está sendo chamado de um modelo de transição. É indiscutível que a educação tem de receber tratamento prioritário, que os prejuízos às crianças são incalculáveis, mas nem tudo se consegue resolver por decreto.
Em 10 dias, será anunciado um novo modelo, provavelmente mais flexível. Hoje, não há clareza de que instrumentos o governo terá para usar em caso de uma nova onda que possa resultar em colapso do sistema hospitalar.
Como a opção foi por decretar bandeira vermelha em todo o território, sem possibilidade de os prefeitos adotarem protocolos mais brandos, permitidos no sistema de cogestão, o governo reforça a sensação de remendo costurado às pressas. Surpreendido pela derrota judicial da noite de segunda-feira e sem perspectiva de uma decisão favorável no Supremo Tribunal Federal, restou ao Piratini enterrar a salvaguarda que defendeu com unhas e dentes, usando o argumento de que o índice de 0,35 leito de UTI covid livre para cada um ocupado era a margem segura para evitar a repetição do colapso do sistema hospitalar, verificado em março.
Embora essa relação tenha sido preservada ao longo de todo o ano de 2020 (o menor índice foi de 0,44, em dezembro), criou-se entre os aliados do governo o mito de que o número era inatingível. O problema não é o índice em si, criado por médicos e não pelo governador. É o vírus que mantém UTIs lotadas, mesmo com a queda consistente das internações em leitos clínicos. Uma das explicações é que a nova cepa, mais contagiosa, atingiu jovens que permanecem mais tempo internados.
Aliás
Na bandeira vermelha, as aulas presenciais ficam liberadas para todas as séries, da Educação Infantil aos cursos de pós-graduação. O governo terá de montar escalas para que não voltem todos os estudantes ao mesmo tempo, comprometendo a estratégia de evitar aglomerações.
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