A prefeitura de Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, está investigando a denúncia de que o dono e nove funcionários de um escritório de contabilidade, com idades entre 30 e 44 anos, furaram a fila da vacina contra o coronavírus.
O escritório presta serviços à Farmácia Hamburguesa. O dono da farmácia, o empresário Paulo Kopschina, conhecido político do Vale do Sinos, disse à coluna que não quer falar “neste momento”. Pelo WhatsApp, informou que aguardará a manifestação da prefeitura de do secretário da Saúde de Novo Hamburgo.
“Amanhã, após as manifestações, vou mandar o documento assinado por mim com firma reconhecida em cartório e a senhora vai entender. Aí falo. Peço desculpas novamente. Não estou sendo indelicado”, escreveu.
Questionado se o documento especifica que os vacinados são prestadores de serviço, Kopschina respondeu: “Sim. Nós tivemos o cuidado de colocar a chamada da Prefeitura para a vacinação. No mesmo documento, juntamos o contrato de prestação de serviços contábeis e advocatícios. Todos os colaboradores dessa empresa com carteira de trabalho assinada regularmente”.
Kopschina invocou o histórico da Farmácia Hamburguesa em defesa da lisura do procedimento: “Os nossos 88 de serviços prestados em várias cidades falam por si só. A fundação da Farmácia Hamburguesa é datada de 12 de Janeiro de 1932 e, estou comandado desde 1966”.
Perguntado sobre qual seria o risco a que advogados e empregados de uma empresa de contabilidade estão expostos para justificar a vacinação em caráter prioritário, Kopschina respondeu, sempre pelo WhatsApp: “Os funcionários dessa empresa manipulam toda a nossa documentação. Notas fiscais de compras, toda a documentação do RH. São centenas de notas fiscais que são manuseadas por muita gente até chegar na contabilidade”.
A prefeita Fátima Daudt diz que tomou conhecimento da história pelo blog DuduNews Schmitz. Eduardo Henrique Schmitz é um jovem de 16 anos que agita Novo Hamburgo com informações e opiniões sobre assuntos políticos ou de interesse geral. Na tarde desta quarta-feira, o DuduNews publicou um texto assinado pelo jornalista Aurélio Decker, detalhando a vacinação do proprietário do escritório Servicom, o advogado e contador Rafael Eckhard, sobrinho de Kopschina, e de nove empregados da empresa. A Decker, Eckhard disse que não vê nada de errado e que agiu dentro das normas estabelecidas pela prefeitura.
Fátima Daudt disse à coluna que conversou com o secretário da Saúde, Naasom Luciano, que está verificando o que aconteceu com a Farmácia Hamburguesa. Os empregados da farmácia são classificados como profissionais de saúde, para efeito de prioridade na vacinação, mas a brecha usada para imunizar advogados e contadores aparenta ser outra. O regramento da prefeitura permite, por exemplo, a vacinação se terceirizados que atuam na linha de frente.
— Para ser vacinado é preciso que o estabelecimento comprove o vínculo. Os porteiros do Hospital Regina, por exemplo, são terceirizados. Foi preciso que o hospital emitisse uma declaração atestando que aqueles profissionais fossem vacinados, porque exerciam tal função. No caso de carteira assinada, não precisa a declaração.
Fátima informa que solicitou e a Vigilância em Saúde está separando todas as declarações fornecidas pela Farmácia Hamburguesa.