A passagem do presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, pelo Rio Grande do Sul não se limitou a dar posse aos novos dirigentes partidários que ele indicou depois de atacar o vice-governador Ranolfo Vieira Júnior e de dissolver o diretórios estadual e o de Porto Alegre. À frente de uma agenda de radicalização à direita e de devoção ao presidente Jair Bolsonaro, Jefferson liderou uma manifestação bolsonarista na Capital, que reuniu políticos, líderes religiosos e apoiadores do presidente neste domingo (11).
O ex-deputado, pivô do escândalo do Mensalão, desembarcou no RS na quinta-feira (8), mesmo dia em que foi denunciado pelo Ministério Público por homofobia, injúria e preconceito, após ofender o governador Eduardo Leite em manifestações públicas. No sábado, deu posse formalmente ao ex-deputado Edir Oliveira como presidente estadual do PTB. Oliveira foi designado para o cargo depois que o diretório anterior foi dissolvido. Ranolfo e a maioria dos deputados estaduais e federais ameaçam deixar o PTB na janela das trocas partidárias, em março de 2022.
No mesmo ato, foi anunciada a filiação do histriônico deputado estadual Rodrigo Maroni ao PTB. Com a bandeira da causa animal, Maroni havia se filiado recentemente ao Partido da Mulher Brasileira (PMB), depois de passar por PT, PSOL, PCdoB, PR, Podemos e PROS. No Twitter, Jefferson saudou a chegada do deputado: "Mais um gigante para lugar conosco em defesa do conservadorismo e das famílias brasileiras."
Dois dias depois do anúncio, Maroni voltou atrás e anunciou que vai permanecer no PMB, com a justificativa de que pretende manter uma boa relação com o governador Eduardo Leite e ter "liberdade de opinião". Ninguém entendeu a filiação, seguida da desfiliação.
Além de participar do ato público pró-Bolsonaro, Jefferson esteve em reuniões com correligionários e representantes de corporações, para as quais o distanciamento social e as máscaras não foram convidados.
Como epílogo da visita, anunciou, nas redes sociais, o lançamento do prefeito de Bagé, Divaldo Lara, como pré-candidato ao governo do Estado. O prefeito é irmão do deputado Luis Augusto Lara, a quem Jefferson afastou da presidência estadual do PTB e chamou de "covarde". Na sexta-feira, Divaldo tornou-se réu em uma das três ações que o MP ajuizou contra ele na Justiça Estadual. O órgão acusa o prefeito de Bagé de liderar uma organização criminosa na prefeitura e de cometer 34 infrações penais desde que assumiu o cargo, em 2017. Ele se diz inocente.
A pré-candidatura foi anunciada por Jefferson em um post no Twitter nesta segunda-feira (12), após retornar a Brasília. O ex-deputado publicou uma fotografia ao lado de Divaldo e escreveu: "Chegamos à Brasília. Divaldo Lara, prefeito de Bagé. Começamos a costurar sua pré candidatura ao governo do Rio Grande do Sul".
Horas mais tarde, o prefeito negou peremptoriamente que deseja concorrer ao Piratini:
"Não sou candidato! Fico honrado com o convite e as mensagens de diversos setores da sociedade gaúcha, não sou candidato minha prioridade é a minha cidade e as obras que estou realizando com o Governo Federal, nesse momento as discussões e debates políticos estão fora do meu horizonte. Minha dedicação é à prefeitura de Bagé", declarou, em comunicado enviado pela assessoria
Marcha e reuniões
No domingo, de cima de um caminhão de som decorado com fotografias e mensagens de apoio ao presidente Jair Bolsonaro, Roberto Jefferson foi a estrela da manifestação bolsonarista que reuniu algumas pessoas no Parque Moinhos de Vento. Como de hábito nesse tipo de ato, o tom verde-amarelo era predominante. Intitulado "Marcha da Família Cristã pela Liberdade", o protesto ocorreu também em outras cidades brasileiras.
Ao microfone, o petebista não poupou o governador Eduardo Leite e exaltou valores cristãos. Palavras de ordem como "pátria", "família", "Deus", "vida" e "liberdade" foram entoadas por Jefferson e repetidas pelos que assistiam ao discurso, debaixo de chuva.
O dia anterior, Jefferson dedicou a reuniões. Em diferentes atividades, encontrou-se com representantes de entidades da Brigada Militar, com líderes da igreja evangélica Assembleia de Deus e com um grupo de jovens.
Em uma das reuniões, estiveram o deputado Elizandro Sabino e a vereadora Tanise Pazzim, sua esposa. Sabino, que no mês no passado assinou carta de solidariedade ao vice-governador Ranolfo Vieira Júnior após ataques de Jefferson, disse à coluna que ainda não sabe se deixará o PTB, como seus colegas. Tanise, por sua vez, ganhou um dos cargos do novo diretório estadual.
— Sou filiado ao PTB desde a juventude, meu pai foi vereador pelo PTB, eu fui vereador e sou deputado e minha esposa é vereadora. Tenho vínculos com o partido e preciso ouvir a base. Uma decisão dessas não se toma da noite para o dia — disse Sabino.
Em outro encontro, compareceu o presidente da ala jovem do PP gaúcho, Luís Vicente Aquino. O advogado é neto do senador Luis Carlos Heinze, pré-candidato do PP ao governo do Estado e aliado de Bolsonaro.
" Muitas conversas sobre eleições 2022 e a necessidade de contarmos com a força dos jovens na defesa do conservadorismo e dos valores cristãos", escreveu Jefferson ao publicar uma foto do encontro no Twitter.