A urgência em resolver a crise do transporte coletivo em Porto Alegre, que está à beira do colapso, deve levar o prefeito Sebastião Melo a propor a cobrança de uma taxa sobre as corridas por aplicativos, descartada durante a campanha eleitoral e mesmo depois da eleição. A crise do transporte foi um dos temas da reunião do secretariado, nesta terça-feira (19), mas não se chegou a propostas concretas.
O secretário de Mobilidade Urbana, Luiz Fernando Záchia, admitiu, no entanto, que o cardápio de opções é escasso e que será preciso adotar medidas paliativas. Como solução emergencial, até que se formate uma reestruturação completa do sistema de mobilidade da Capital, Záchia sugere reapresentar pelo menos duas propostas do ex-prefeito Nelson Marchezan, que não prosperaram por falta de articulação política: além da taxação dos aplicativos, para subsidiar o transporte coletivo, e a retirada gradual dos cobradores dos ônibus.
– Não tem sentido os carros de aplicativos rodarem sem pagar nada, enquanto os táxis são taxados e os ônibus têm um papel social, porque transportam a população mais pobre e 30% dos usuários não pagam passagem – diz o secretário.
Um dos motivos da crise do sistema de transporte coletivo (ônibus e lotações) é a perda de passageiros para os aplicativos. Com a pandemia e o aumento do número de pessoas que passaram a trabalhar em casa, somando à elevação dos custos, o sistema se deteriorou. Na Carris, a prefeitura teve de injetar R$ 72 milhões em 2020.
No caso dos cobradores, a ideia é propor uma solução negociada, requalificando os trabalhadores para que possam exercer outras funções. Záchia diz que não tem sentido a exigência de cobrador em todos os horários e linhas, incluindo os dias de passe livre, se praticamente não circula mais dinheiro nos ônibus.
A prefeitura de Porto Alegre corre contra o tempo. Por lei, o próximo reajuste está previsto para 1º de fevereiro. Se fosse aplicar a planilha de custos, a passagem subiria de R$ 4,55 para entre R$ 5,70 e R$ 6, insuportável para os usuários. O Executivo municipal busca um acordo com as empresas.
A negociação ampla que a prefeitura propõe inclui não apenas os vereadores e os concessionários do transporte coletivo, mas também as empresas, os sindicatos de trabalhadores, os taxistas e o Judiciário.
Por que o Judiciário? Porque a prefeitura sabe que as empresas de aplicativos de transporte recorrerão à Justiça para impedir qualquer cobrança.
Nos planos da prefeitura está, também, a revisão das isenções previstas em leis municipais. Se depender do secretário de Mobilidade, a isenção de 50%, hoje dada a todos os estudantes, só valerá para os de baixa renda.