Quando o general Eduardo Pazuello foi indicado ministro da Saúde, sua principal credencial, segundo o presidente Jair Bolsonaro, era a experiência em logística. Era o argumento usado para justificar a indicação de um general e não de um médico para a vaga antes ocupada por Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. À época ainda não se falava em vacina, mas era importante organizar um sistema de distribuição de respiradores e outros equipamentos hospitalares.
O tempo passou e na hora em que precisou mostrar que é, de fato, um craque em logística, Pazuello fraquejou. Antes mesmo da confusão em torno da entrega das primeiras doses da CoronaVac, anunciada com pompa e circunstância em reunião presencial com os governadores, no Aeroporto de Guarulhos, Pazuello já havia mostrado que, na guerra contra o vírus, não era o homem certo para planejar um “desembarque na Normandia”. A demora na reação à iminente falta de oxigênio em Manaus pôs em dúvida a capacidade de logística do Ministério da Saúde. O governo demorou para enviar os primeiros cilindros de oxigênio – e vidas se perderam por asfixia.
Um documento da Advocacia-Geral da União entregue ao Supremo Tribunal Federal confirma que o governo federal sabia do “iminente colapso do sistema de saúde” em Manaus 10 dias antes de a crise estourar e de faltar oxigênio para os pacientes. Segundo o portal G1, o documento diz textualmente que havia “possibilidade iminente de colapso no sistema de saúde em 10 dias, o que pode provocar aumento da pressão sobre o sistema entre o período de 11 a 15 de janeiro”. O resto da história é conhecido.
Voltando à vacina, em São Paulo, o governador Eduardo Leite recebeu a informação de que o primeiro lote do Rio Grande do Sul chegaria às 16h. Foi assim que se planejou o ato simbólico de início da vacinação para as 18h, no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, um centro de referência de atendimento aos pacientes de covid-19.
Depois de uma série de informações desencontradas – ora as vacinas viriam em avião da FAB, depois já tinham saído de caminhão, até que, por fim, veio a confirmação de que virão em um voo da Azul –, a vacinação da primeira gaúcha ficou para as 21h30min. A técnica de enfermagem escolhida para simbolizar o início da campanha de vacinação no Rio Grande do Sul ficará de prontidão, à espera do grande momento.
Outro episódio reforça o abalo na imagem de “craque da logística” com que Pazuello foi apresentado ao Brasil: o fracasso na operação de busca de 2 milhões de doses da vacina de Oxford/AstraZeneca, importadas da Índia. O avião da Azul foi adesivado com o slogan “Brasil vacinado”, mas não conseguiu decolar porque a Índia não garantiu a liberação da carga. Justiça se faça a Pazuello, nesse caso a responsabilidade deve ser compartilhada com o Itamaraty.
O Ministério das Relações Exteriores, sob comando de Ernesto Araújo, faz, com frequência, a antidiplomacia. Na sua conta pode ser debitada também a demora na liberação dos insumos que virão da China para a Fiocruz produzir a vacina de Oxford, já que o governo insinua que há “má vontade” dos chineses. Se há, de fato, cabe a pergunta: o que Araújo fez para melhorar as relações com o maior parceiro comercial do Brasil, prejudicadas por suas brincadeiras de mau gosto e pelos comentários inadequados do deputado Eduardo Bolsonaro?