Com a atenção voltada para o projeto do ICMS, que deve ser votado nesta semana (e para o qual ainda não tem os votos necessários), o governador Eduardo Leite abriu um flanco para ser cobrado pela falta de coerência no enfrentamento ao coronavírus. No pior momento da pandemia, com as UTIs para pacientes com covid-19 praticamente lotadas, o governo cedeu às pressões de deputados e empresários e abrandou as restrições à circulação de pessoas. Sem perspectiva para o início da vacinação, Leite vai na contramão de países desenvolvidos, como a Alemanha, e daqueles que já começaram a imunizar a população, caso do Reino Unido.
Embora o comitê de crise tenha rejeitado todos os recursos contra as bandeiras preliminares anunciadas na sexta-feira, a volta do sistema de cogestão (que estava suspenso) permite que os prefeitos adotem restrições da bandeira imediatamente inferior.
Significa que mesmo os municípios das regiões de Bagé e Pelotas, que ficaram em bandeira preta (risco altíssimo), podem adotar as regras da bandeira vermelha (risco alto). As regiões que tiveram classificação vermelha, como Porto Alegre, podem, por decisão da maioria dos prefeitos, liberar atividades que só seriam permitidas para quem está em bandeira laranja (risco médio).
A secretária da Saúde, Arita Bergmann, justifica que “os prefeitos têm de assumir suas responsabilidades”. A mesma Arita informa que serão reabertos 72 novos leitos de UTI que haviam sido fechados em outubro, quando a pandemia arrefeceu. O problema é que faltam equipes para ampliar a oferta de leitos.
A responsabilidade está sendo dividida com os prefeitos e com o setor produtivo, a quem não interessa voltar ao tempo das fábricas, lojas, restaurantes e bares fechados. Com bom senso será possível provar que é possível manter o ritmo da atividade econômica, combinada com medidas sanitárias adequadas. Dos prefeitos, o mínimo que se pode esperar é que saibam usar com sabedoria o alvará que receberam para flexibilizar as restrições.
A impressão que passa para quem segue respeitando o distanciamento social é que o governo jogou a toalha, no momento em que cresce a demanda por leitos clínicos e de UTI e que os profissionais da saúde estão esgotados. Como as medidas duras adotadas para evitar aglomerações não surtiram efeito, e o número de casos disparou, o governo lavou as mãos. Recomenda que se respeitem os protocolos, mesmo a prática mostrando que nem o simples uso da máscara está sendo respeitado.
O comércio tem razão em pleitear a ampliação de horários nesta que é a oportunidade derradeira de recuperar parte das perdas dos meses de fechamento, mas a população terá de fazer a sua parte, evitando aglomerações desnecessárias. Para que a economia volte a crescer em 2020 se recupere mais rápido do baque sofrido em 2021 é preciso evitar o colapso no sistema de saúde. Os empresários conscientes sabem disso e são os maiores interessados em evitar que a situação saia do controle no Rio Grande do Sul.
Aliás
Depois da campanha eleitoral, em que nada se fez para evitar aglomerações, o governador perdeu discurso para continuar mantendo regras rígidas para os setores considerados não essenciais. Para não ficar com o rótulo de intransigente, cedeu mais do que seria de se esperar de quem passou os últimos meses dizendo que baseava suas decisões na ciência.
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