Por mais que se compreenda a indignação de brancos e negros com o assassinato brutal de João Alberto Silveira de Freitas, por seguranças do Carrefour do Passo D'Areia, em Porto Alegre, não se justifica responder a violência com mais violência. Justiça com as próprias mãos não é justiça, é barbárie.
A polícia e a perícia fizeram seu trabalho e os assassinos, presos em flagrante, terão de responder pelo crime à luz do Código Penal. À Justiça caberá estabelecer a pena.
O protesto contra o espancamento do homem negro de 40 anos foi pacífico até o momento em que um grupo minoritário forçou a grade, derrubou o portão e invadiu o prédio. A manifestação descambou para a baderna, com o grupo jogando foguetes nos policiais e queimando faixas e cartazes.
A Brigada Militar agiu rápido, porque estava preparada. Desde cedo, pelas redes sociais, grupos radicais ameaçavam promover atos violentos. O Batalhão de Choque reagiu com bombas de gás lacrimogêneo e tiros com balas de borracha.
Assim como ocorreu nos protestos do inverno de 2013, os manifestantes pacíficos se retiraram quando os radicais invadiram o supermercado e colocaram fogo em papéis e faixas. Embora pequeno, o grupo insistiu no confronto com os brigadianos. Os repórteres Vitor Rosa, Laura Becker e Marcel Hartmann relataram ao vivo, na Rádio Gaúcha, momentos de tensão por mais de uma hora.
O crime cometido pelos seguranças do Carrefour remete ao assassinato de George Floyd, nos Estados Unidos, que levou para o mundo o slogan “Vidas Negras Importam”.
João Alberto foi morto por dois seguranças, um deles policial militar temporário que usava o mesmo uniforme da empresa Vector, de São Paulo, que presta serviços ao Carrefour. Como Floyd, também parou de respirar quando já estava imobilizado.
O sangue no piso do estacionamento e a imagem de João Alberto sendo agredido até a morte, diante de clientes com celulares ligados, marcam, tristemente, este Dia da Consciência Negra. Tão chocantes quanto os socos e pontapés no homem já imobilizado é a apatia dos que assistem ao espetáculo de brutalidade mais preocupados em filmar do que em acudir. Nos vídeos, nota-se que quem pede aos seguranças que parem simplesmente é ignorado, mas, se todos tentassem evitar a tragédia, será que o final desta história não seria outro?
Ainda não está claro o que desencadeou a ação violenta dos seguranças — as câmeras não captaram o suposto gesto que teria feito a fiscal chamar os seguranças. Seja qual for, nada justifica a agressão e a morte. A imagem da funcionária do supermercado que, em vez de pedir aos seguranças que parassem, tentava apenas impedir a gravação das cenas, correu o país e provocou ondas de indignação dentro e fora do Rio Grande do Sul.
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