Os sinais emitidos pelo presidente Jair Bolsonaro de que não quer o general Hamilton Mourão como vice na eleição de 2022 funcionaram como uma espécie de carta de alforria. No jogo político, o vice-presidente atingiu a fase de poder dizer o que quer, sem medo da patrulha.
Em entrevista à revista Veja, Mourão definiu a resistência de Bolsonaro à CoronaVac, vacina produzida pelo Instituto Butantan contra a covid-19, com sua proverbial capacidade de síntese:
— Essa questão da vacina é briga política com o Doria (João Doria, governador de São Paulo). O governo vai comprar a vacina, lógico que vai. Já colocamos os recursos no Butantan para produzir essa vacina. O governo não vai fugir disso aí.
Com dois anos de antecedência, Bolsonaro e Doria estão em campanha para a eleição presidencial de 2022. A vacina virou cavalo de batalha para os dois. Doria quer aparecer ao país como o sujeito ágil que chegou antes na corrida pela vacina, fez o acordo com laboratório chinês Sinovac para produção pelo Instituto Butantan e passou a vender para o país a ideia de que está do lado certo da força, ao pregar a vacinação obrigatória.
Bolsonaro, de sua parte, identificou no movimento de Doria o que poderia ser um ativo importante na disputa pelo Planalto e desfez menos de 24 horas depois o arranjo anunciado aos governadores por seu ministro de Saúde, general Eduardo Pazuello, quando prometeu comprar 46 milhões de doses da CoronaVac para somar-se a outras vacinas que estão em desenvolvimento. Tudo, claro, se a vacina chinesa passar em todos os testes.
Em sintonia com seu exército de seguidores nas redes sociais, Bolsonaro passou a desqualificar a vacina chinesa. Mourão, que tem o olhar de estrategista militar, sabe que isso é balela. Que se a vacina for aprovada, o Brasil terá de comprá-la, até porque os laboratórios que produzirão as outras que estão em fase adiantada de testes não terão capacidade suficiente de produção para atender toda a demanda global.
Em mais um sinal de que está querendo demarcar território e se afastar das teorias conspiratórias de Bolsonaro, Mourão disse que não tem receio de tomar a CoronaVac, se a vacina for certificada pela Agência Nacional de Vigilânica Sanitária (Anvisa).
Mais: em oposição ao presidente, definiu a China como uma "potência global, que pratica um capitalismo de Estado". E disse que as empresas chinesas que demonstrem compromisso com soberania, privacidade e economia têm condições de participar do leilão do 5G no Brasil.
Não será surpresa se as redes bolsonaristas passarem a chamar o vice-presidente de comunista, se é que já não estão. Porque Mourão avaliou de forma pragmática as relações com a China, hoje o maior parceiro comercial do Brasil:
— Agora, é partido único? É partido único. É um regime autoritário ditatorial? É um regime autoritário ditatorial. Mas é o regime deles. A gente tem de entender que a China nunca viveu sob um regime democrático, numa república como nós a entendemos.
O vice-presidente esvaziou o balão de uma eventual candidatura a governador (do Rio Grande do Sul ou de outro Estado), como se especula. Disse que se acha velho para ser governador e confirmou que o Senado lhe parece uma opção mais interessante.
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