Os senadores ficaram mordidos — e seguem reclamando de interferência do Judiciário — porque o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, mandou afastar por 90 dias o senador Chico Rodrigues (DEM-RR), aquele flagrado com mais de R$ 30 mil escondidos na cueca. Barroso agiu no vácuo do Senado, que deveria ter tomado iniciativa de afastar Rodrigues temporariamente e acelerar o processo de julgamento na Comissão de Ética por quebra de decoro parlamentar.
Se esconder dinheiro sujo na cueca não é quebra de decoro, o que será? Chico Rodrigues tentou aplicar nos colegas uma explicação que só cola se o espírito de corpo for maior do que o instinto de sobrevivência ou se os senadores estiverem se lixando para a opinião pública.
Na tentativa de salvar a pele, Rodrigues enviou mensagem aos colegas dizendo que o dinheiro era para pagamento de empregados e que escondeu na cueca “por impulso”.
Primeiro, é estranho que o senador não confie no sistema bancário e use dinheiro vivo para pagar as pessoas que trabalham como ele, seja a que título for. Segundo, se tinha como provar a origem lícita, por que esconder as notas em local que já se provou devassável?
“Nunca tinha sido acordado pela polícia. Acordei em meio a pessoas estranhas em meu quarto. Num ato de impulso, protegi o dinheiro do pagamento das pessoas que trabalham comigo. Se levassem aquele dinheiro ninguém iria receber naquela semana”, afirmou o senador na mensagem aos pares, segundo o blog do jornalista Valdo Cruz, do G1.
O caso do senador que virou piada remete à demora da Câmara em cassar o mandato da deputada Flordelis (PSD-RJ), acusada de tramar a morte do marido, o pastor, Anderson do Carmo, assassinado a tiros em junho de 2019.
Flordelis tenta de todas as formas espichar seus dias na cadeira. Demorou para entregar a defesa (só o fez em 16 de setembro). No dia 1º de outubro, o corregedor da Câmara, Paulo Bengston (PTB-PA) entregou parecer favorável à continuidade do processo disciplinar contra a deputada, que não foi presa, mas está sendo obrigada a usar tornozeleira eletrônica por determinação da Justiça.
No dia em que foi denunciada, 24 de agosto, a deputada que construiu a vida política em cima da farsa de evangélica protetora de crianças (e a investigação mostrou que agia de forma monstruosa), deveria ter sido expulsa do PSD, mas não foi.
No dia 18 de setembro, no exercício do mandato de deputada, Flordelis participou de um debate virtual sobre violência contra mulheres na política, e teve o despudor de pedir o apoio das colegas da bancada feminina para que não perca o mandato parlamentar:
— Está acontecendo comigo agora uma violência muito grande contra mim por ser deputada federal. Aconteceu um crime na minha casa e eu não cometi tal crime. As acusações contra mim não têm nada a ver, são acusações absurdas. Queria pedir o apoio das mulheres, que me apoiem, que me ajudem. Eu vou conseguir provar minha inocência. Eu sou inocente — declarou, na ocasião.
Colocados lado a lado, Chico Rodrigues e Flordelis com suas desculpas esfarrapadas dariam um retrato fiel desse recorte do Congresso que se elegeu em 2018 pregando, literalmente, moral de cuecas.
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