As explicações dadas pelo vice-prefeito Gustavo Paim no pronunciamento em que justificou sua saída da disputa pela prefeitura de Porto Alegre podem ser definidas como meias verdades. É fato que o número excessivo de candidatos poderia favorecer um segundo turno entre o prefeito Nelson Marchezan (PSDB) e a ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB), mas não foi esse o verdadeiro motivo da saída de Paim. Se fosse, a candidatura não teria chegado até aqui.
Paim desistiu porque o PP concluiu que manter a candidatura sem recursos para financiar a campanha seria embarcar em uma canoa furada. A afirmação de que as dificuldades estruturais não tiveram peso é, para dizer o mínimo, uma fantasia.
O PP não conseguiu arrancar do senador Ciro Nogueira, manda-chuva que cuida do dinheiro do fundo eleitoral, a garantia de que teria os recursos mínimos para uma campanha competitiva. Apesar de a direção nacional ter incluído Porto Alegre na sua lista de prioridades, na hora da verdade Nogueira não se comprometeu com valores e deixou o PP gaúcho a ver navios.
Pesou, também, a fragilidade da aliança que o PP conseguiu montar. Além de ter apenas dois partidos inexpressivos (PRTB e Avante), a chapa ficou enfraquecida com a desistência do coronel Mario Ikeda em ser candidato a vice-prefeito. Paim chegou a ir a Brasília conversar com o ministro Onyx Lorenzoni, em busca do apoio do DEM, mas o partido preferiu fechar com Sebastião Melo (MDB) e indicar o vereador Ricardo Gomes (ex-PP) como vice.
Paim, que se lançou pré-candidato ainda em 2019, ainda foi prejudicado pela pandemia. Em uma campanha como a deste ano, com restrições extremas ao corpo a corpo, levam vantagem os candidatos mais conhecidos. É o que em marketing político se conhece pela palavra em inglês recall.
Nesse quesito, o vice-prefeito vai para o fim da fila, porque nunca exerceu outro mandato nem disputou eleições que, mesmo em caso de derrota, lhe dessem visibilidade. Até os pontos obtidos em pesquisas encomendadas por partido, que chegaram a animar, podem ser fruto de confusão com outro Paim calejado nas urnas, o senador Paulo Paim (PT).
Pelo menos metade dos candidatos que disputam a eleição em Porto Alegre são mais familiares aos eleitores. Não se trata aqui de competência ou de propostas, apenas de exposição. Marchezan é o prefeito e, para o bem ou para o mal, está há quatro anos na vitrine. Antes foi um deputado federal. Manuela, que Paim considera a pior opção ao lado de Marchezan, foi campeã de votos como vereadora, deputada federal e deputada estadual. Já disputou a prefeitura e em 2018 concorreu a vice-presidente da República.
Sebastião Melo (MDB) foi vereador por muitos anos, presidiu a Câmara e hoje é deputado estadual. Em 2016 disputou o segundo turno com Marchezan e perdeu. José Fortunati (PTB) já foi vereador, deputado estadual e federal, vice-prefeito e prefeito por seis anos. Paim ainda teria de enfrentar Juliana Brizola (PDT), deputada estadual, Fernanda Melchionna (PSOL), ex-vereadora e hoje deputada federal, e Valter Nagelstein (PSD), vereador que já disputou a prefeitura, sem contar os folclóricos de partidos com pouca expressão.
Veja o vídeo em que Gustavo Paim anuncia a desistência
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