Consumada a nomeação do professor Carlos Bulhões para o cargo de reitor da UFRGS, o primeiro desafio dele e da vice, Patrícia Pranke, será pacificar a maior universidade do Rio Grande do Sul. Para isso, a dupla terá de mostrar capacidade de gestão e de diálogo para apagar a impressão corrente de que serão um apêndice do mandato do padrinho, o deputado federal Bibo Nunes (PSL), primeiro a defender publicamente a indicação.
Pelo que representa para o Brasil, a UFRGS não pode ser refém de injunções políticas. É uma instituição federal, custeada com dinheiro dos impostos dos brasileiros, mas o governo não é seu dono. Zelar pela imagem da universidade, que tem se mantido sempre entre as primeiras do ranking pela excelência de seus professores e pela produção científica, é tarefa indelegável do reitor.
Desde o início do governo de Jair Bolsonaro, as universidades federais têm sido difamadas nas redes sociais, por pessoas que desconhecem os detalhes da vida acadêmica. Esse movimento de ataque às universidades começou com declarações preconceituosas e descabidas do então ministro da Educação Abraham Weintraub, que definiu as instituições federais como antros de baderna, com plantações de maconha e produção regular de drogas sintéticas.
Weintraub nunca provou o que disse, mas instigou as milícias digitais a atacarem as universidades, usando como se fosse rotina nos campi uma foto em que um grupo de jovens nus faz performance na escadaria de um prédio.
Por natureza, a universidade tem de ser um espaço plural, de criação e de pesquisa, aberta a todas as correntes de pensamento. O reitor Rui Oppermann e sua vice, Jane Tutikian, que figuravam no primeiro lugar da lista, graças ao peso maior do voto dos professores, honraram o legado de seus antecessores e respeitaram essa diversidade que faz da UFRGS uma instituição de referência.
Ao optar por Bulhões, terceiro da lista tríplice, Bolsonaro não cometeu ilegalidade. Usou da prerrogativa de escolher um dos três e desprezou o voto de professores, alunos e funcionários, como já havia feito com procuradores do Ministério Público Federal ao escolher Augusto Aras para a Procuradoria-Geral da República.
O que o correu na UFRGS deve se repetir na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a próxima do Rio Grande do Sul a passar pelo processo de sucessão do reitor.