Ainda não é oficial nem a primeira vez que o deputado Bibo Nunes (PSL) sai de uma audiência garantindo que o martelo já foi batido e que o professor Carlos André Bulhões Mendes será o novo reitor da UFRGS. Conforme o jornalista Tulio Milman informou no início da tarde, Bibo saiu de uma reunião no Ministério da Educação anunciando que Bulhões será nomeado na próxima semana. Tão logo a coluna foi publicada, os grupos de WhatsApp de professores e alunos da UFRGS começaram a repercutir a notícia que os eleitores das outras duas chapas mais votadas tanto temiam.
Bibo abraçou a candidatura de Bulhões logo depois do resultado da votação interna que confirmou o atual reitor, Rui Oppermann, e sua vice, Jane Tutikian, como os mais votados no Conselho Universitário, com 45 votos, contra 29 de Karla Müller e Claudia Wassermann e três de Bulhões e Patricia Pranke. Em termos nominais, a chapa mais votada foi a encabeçada por Karla, que recebeu 8.947 votos no total, contra 4.683 de Oppermann e 1.860 de Bulhões. Ainda assim, Opperman e Jane foram lideram a lista, porque o voto dos professores tem peso maior.
Só se surpreende com a escolha do terceiro da lista, por critério exclusivamente político, quem não conhece o governo de Jair Bolsonaro e estava em outro planeta no período em que Abraham Weintraub foi ministro e demonizou as gestões atuais das universidades. O carimbo de esquerdista não combina com Oppermann nem com Jane, mas Bibo colou o rótulo e os dois, que sempre se mostraram moderados, viraram comunistas aos olhos do bolsonarismo.
Pelo que se viu na gestão de Weintraub, o governo Bolsonaro está se lixando se a comunidade acadêmica pressiona pela indicação de Oppermann e Jane, invocando a autonomia da universidade. Se pudesse, o presidente indicaria um interventor. Um dos últimos atos de Weintraub antes de deixar o MEC pela porta dos fundos foi propor uma intervenção nas universidades e institutos federais cujos reitores estão em fim de mandato. A alegação era de que, com a pandemia, a eleição ficaria inviabilizada.
A ideia não prosperou. A eleição foi feita em modo virtual e Bulhões, mesmo não tendo histórico de alinhamento ao bolsonarismo, acabou ganhando o aval de Bibo, o deputado gaúcho mais próximo de Bolsonaro. O grupo de Oppermann tentou conseguir o apoio do bancada gaúcha para que a escolha respeitasse a vontade da maioria, mas os deputados não abraçaram a causa.
Jerônimo Goergen (PP) chegou a dizer uma rede social que não apoiaria a ideia porque, se dependesse dele, o reitor de uma universidade federal seria de livre nomeação do presidente da República. Manifestações de parlamentares de centro e de esquerda pesaram contra. Na lógica bolsonarista, ter o apoio de adversários do governo é um motivo a mais para escolher outro nome.
Bolsonaro já mostrou em outra oportunidade que não dá a mínima para essa história de respeitar o voto da base. Foi na escolha do procurador-geral da República, em que desprezou a lista tríplice e escolheu Augusto Aras, contando que a indicação do Ministério Público Federal era apenas uma tradição inaugurada no governo Lula e que, por lei, ele não era obrigado a acatar.
A se confirmar a indicação, Bulhões deve enfrentar hostilidade à frente da reitoria da UFRGS, mesmo que sua indicação esteja rigorosamente dentro da lei. Se a lista é tríplice, qualquer dos três nomes encaminhados ao MEC está apto a assumir o cargo. O que está por acontecer é a quebra de uma tradição que conversa com o conceito de autonomia da universidade, pelo qual Bolsonaro e seus aliados sempre deixaram claro que não têm qualquer simpatia.
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