Uma frase equivocada dita pelo presidente Jair Bolsonaro em relação à vacina para o coronavírus poderá ser interpretada como um estímulo ao movimento antivacina, que coloca em risco a vida de crianças. A declaração de Bolsonaro, que disse que o governo não obrigará ninguém a se vacinar, contraria a lei que permite a vacinação compulsória como forma de enfrentar a pandemia, assinada pelo próprio presidente em fevereiro.
A afirmação do presidente foi reproduzida em uma postagem da Secretaria de Comunicação publicada no Twitter. Ilustrada em um card com a foto de Bolsonaro, a frase apareceu entre aspas e em letras maiúsculas: “NINGUÉM PODE OBRIGAR NINGUÉM A TOMAR VACINA”. Assinada por Bolsonaro, a mensagem vem com o complemento “O governo do Brasil preza a liberdade dos brasileiros”.
No texto, a Secom escreveu: “O governo do Brasil investiu bilhões de reais para salvar vidas e empregos. Estabeleceu parceria e investirá na produção de vacina. Recursos para Estados e municípios, saúde, economia, TUDO será feito, mas impor obrigações definitivamente não está nos planos”. Duas bandeirinhas do Brasil e uma figurinha de aperto e mãos complementam a obra.
O post, em si, é um equívoco para além da mensagem subliminar: sim, o governo não só pode, como obriga os pais a vacinarem os filhos para determinadas doenças. Dito de forma genérica, a mensagem que, no contexto, parece se referir exclusivamente ao coronavírus, acaba induzindo os seguidores do movimento antivacina a não proteger os filhos de doenças como sarampo, tuberculose e poliomielite, para citar algumas das imunizações que fazem parte do calendário obrigatório.
A vacina para o coronavírus ainda é uma miragem, e os negacionistas, como o próprio Bolsonaro, que subestimam a gravidade da pandemia, podem se rebelar e não aceitarem a vacinação.
Mas e as crianças? Poderá um pai simplesmente decidir que não quer vacinar um filho em nome da liberdade de escolha apregoada pelo presidente? A resposta é não. Os pais que deixam de vacinar os filhos por convicção ideológica ou religiosa colocam em risco a vida de seres indefesos a quem têm obrigação de proteger.
De lambuja, contrariam o Estatuto da Criança e do Adolescente, que também determina ser “obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias”.