As Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) de Porto Alegre atingiram nesta terça-feira (1) a maior ocupação por pacientes com coronavírus desde o início da pandemia. Até as 14h30min, eram 345. Pouco depois, o dado foi atualizado para 344. O recorde até então havia sido registrado em 13 de agosto, quando eram 342. Nas últimas 24 horas, são 20 pacientes a mais. Em relação à terça-feira passada (25), quando eram 310, o aumento é de 11,29%. Na comparação pela média móvel – cálculo mais usado para entender melhor o comportamento da pandemia –, também houve aumento. A média da semana que passou ( 26/8 a 1/9), ficou em 327,14. Na semana anterior (19 a 25 de agosto), em 312,42. O aumento é de 4,71%.
A taxa geral de ocupação segue elevada, em 90,14%. São 750 pacientes para 854 vagas (excluindo-se 22 leitos bloqueados temporariamente). Os hospitais Moinhos de Vento, da Restinga e Independência estavam com 100% dos leitos ocupados. As instituições referências no combate à covid-19 estão com as seguintes ocupações: Clínicas (85,63%), Conceição (96%) e Santa Casa (87,41%).
O recorde de pacientes com coronavírus ocorre 26 dias depois da retomada de atividades em Porto Alegre. Para o secretário municipal da saúde, Pablo Stürmer, ainda é cedo para saber se esse número pode ser uma tendência de alta.
— Tem que ser interpretado com cautela, porque mostra um aumento discreto e de forma isolada. A gente não pode olhar para apenas um dia e chegar à conclusão de uma tendência. Os próximos dias é que vão poder nos confirmar se há realmente uma tendência de aumento ou se mantém a estabilidade que temos verificado nos últimos dias — sustenta Stürmer.
Doutor em Epidemiologia e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Paulo Petry classifica esse recorde como preocupante.
— Parecia que estávamos atingindo uma certa estabilidade, ainda que num patamar alto, mas uma estabilidade. E saudávamos o fato de observarmos pequenas quedas. Então, da mesma forma que saudamos essas pequenas quedas, hoje precisamos nos alertar para que houve um aumento importante — destaca Petry.
Ele ressalta, ainda, que as medidas de flexibilização precisam ser observadas com cautela.
— Essas medidas precisam vir acompanhadas da contribuição e da colaboração da população. Não podemos nos descuidar. O número é preocupante e o sistema está em sobrecarga — alerta o epidemiologista.
O infectologista André Luiz Machado da Silva, que trabalha no Hospital Conceição, diz que a doença ainda está ativa, com taxa de infecção ainda elevada, e precisa ser vista com preocupação. Ele lembra que houve uma queda de ocupação dos leitos de enfermaria e, consequentemente, de UTIs, mas que isso não continuou.
— Ela (ocupação de leitos de enfermaria) se manteve estável e em valores de ocupação que fazem com que pacientes precisem ser encaminhados para UTIs. E, no momento, nós temos uma proporção de leitos de UTI que é inferior a leitos de enfermaria — pondera o infectologista, ao acrescentar que “esse aumento na taxa de ocupação dos leitos de UTI covid vai continuar subindo, infelizmente, nos próximos dias”.