Nas conversas com estudantes de Jornalismo, sempre disse que nada substitui o olho no olho numa cobertura, seja sobre o valão que transborda em um bairro, seja de uma eleição. A tecnologia melhorou a vida dos jornalistas, nos permite entrevistar por telefone pessoas do outro lado do mundo com qualidade de som local, mas nos priva de observar a linguagem corporal, que às vezes é mais reveladora do que as palavras.
A campanha eleitoral que começou neste domingo (27) chuvoso de fim de setembro será a mais desafiadora do resto das nossas vidas e, certamente, da vida dos candidatos, do mais velho e calejado ao jovem estreante. Minha 20° cobertura eleitoral (sem contar o plebiscito do sistema de governo e o referendo sobre o Estatuto do Desarmamento) será 100% em modo remoto, em respeito ao distanciamento social.
Quando comecei, em 1982, a eleição ocorria em 15 de novembro, como neste ano, mas era o calendário original. A contagem dos votos demorava dias, e a rede social era o grupo de amigos, vizinhos e parentes que conversavam na rua, no bar, nos almoços em casa. Imagino a dificuldade para quem precisa se fazer conhecido dos eleitores e está impedido de participar de caminhadas e comícios para ao promover aglomerações.
Nos últimos anos, encontrava todos os candidatos reunidos no primeiro dia da campanha, no estúdio da Rádio Gaúcha, no primeiro debate após o início oficial da cobertura. Neste ano, vou acompanhar de longe, pela tela do tablet em GZH, as imagens do debate entre os candidatos a prefeito de Porto Alegre em sistema drive-in, que será mediado pelo colega Daniel Scola, direto do estacionamento do Grupo RBS, na Rua Zero Hora. Também para Scola será um desafio imenso ancorar um debate vendo os candidatos pelo vidro do carro.
Estarei atenta ao conteúdo, sintetizando ao vivo, mas me ressentirei de não poder sequer dar-lhes as boas vindas à entrada do estúdio, como nos outros anos. Dos 13, só não conheço pessoalmente Luiz Delvair Martins Barros, o candidato do PCO. Acompanhei todas as eleições de todos os outros. Vi nascerem para a política, como vereadores, deputados estaduais ou federais ou, simplesmente como arautos de uma utopia que, sabem, nunca os levará ao poder, como Júlio Flores.
Tenho na memória os momentos marcantes da trajetória de cada um dos candidatos com chance de chegar ao segundo turno, testemunhei as mudanças de partido, as brigas e as reconciliações. Aliados de ontem são adversários hoje e vice-versa, neste país em que o sistema partidário é gelatinoso.
Como será no dia da eleição? Ainda não sabemos. Nos últimos anos, Scola e eu passávamos a manhã de domingo na unidade móvel estacionada na entrada do campus da PUC, recebendo candidatos, ouvindo representantes da Justiça Eleitoral e acompanhando a chegada de eleitores. Desta vez, talvez tenhamos de nos reinventar também no 15 de novembro.
Vou dar o melhor de mim para compensar a distância nesta cobertura, usando a experiência para traduzir fenômenos eleitorais e o conhecimento situação da cidade para identificar os vendedores de ilusões.